06/04/2024

O poderoso império da Sky no exterior

Análise: Como um conglomerado britânico pode servir de exemplo para nortear a atuação das operadoras de TV por assinatura via satélite?

Tem sido cada vez mais comum ouvir que a TV Paga transmitida via satélite está morrendo. A iniciativa das operadoras em expandir a cobertura por cabo e fibra óptica, além da proliferação de novos serviços de streaming, parecem corroborar com a ideia de que o segmento Direct To Home (DTH) pode estar com os seus dias contados.

Ao comparar os números de acessos de janeiro deste ano com os de janeiro de 2019, a TV por assinatura via satélite no Brasil apresentou uma queda de 16,2%. Desde dezembro de 2017, este mercado vem perdendo assinantes mês após mês.

Entretanto, apesar de toda a inovação no mercado do entretenimento, e na queda do número de assinantes de TV paga em diferentes tecnologias, a transmissão de canais fechados via satélite continua firme e forte na liderança de conexões no Brasil.

Mesmo com a baixa no mercado, as transmissões DTH ainda representam 50,7% de market share, com 7,9 milhões de conexões, seguido da TV a cabo (43,4%) e da fibra óptica (5,9%).

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A força do DTH pode ser explicada pela vasta dimensão territorial do país, a concentração de boa parte da população em grandes centros urbanos e a falta de cobertura de cabeamento em regiões isoladas. Tudo isso faz com que em muitas áreas rurais as pessoas só tenham acesso ao entretenimento televisivo por meio de antenas parabólicas.

Hoje, a SKY Brasil, controlada pela AT&T, é a maior operadora de TV por assinatura via satélite do país.

Apesar de atuarem no mesmo setor, a brasileira SKY não tem nada a ver com a britânica Sky, propriedade da Comcast. Mas, quando comparamos as duas, a operadora europeia está mais preparada que a nacional em caso de um cenário de declínio da TV por assinatura.

Como surgiu a Sky Group Limited?

A Sky surgiu em 1990, em Londres, a partir da fusão entre a British Satellite Broadcasting e a Sky Television. Ambas empresas estavam enfrentando problemas financeiros, mas ao juntar forças fizeram surgir a maior empresa de televisão digital paga do Reino Unido.

Ao longo dos anos, e após várias fusões, suas operações expandiram além da Grã-Bretanha, chegando à Espanha, Itália, Suíça, Alemanha, entre outros países.

Quando a Sky foi lançada, ela era apenas uma emissora de satélite, fornecendo uma gama razoavelmente pequena de canais. Hoje, apesar do seu foco maior no Reino Unido, a Sky opera em 7 países e possui 24 milhões de clientes. Ela é a principal empresa de mídia e entretenimento da Europa.

A aquisição da Sky pela Comcast ocorreu em 2018, o que permitiu que uma empresa americana finalmente entrasse no cobiçado mercado do entretenimento europeu, apimentando ainda mais a guerra dos streamings na região.

É claro, a empresa também tem enfrentado a fuga de clientes para os serviços concorrentes de vídeo sob demanda. Entretanto, a empresa fechou o ano passado com aumentos de receita e também de assinantes, adicionando 394 mil clientes à sua base durante 2019, 77 mil somente no quarto trimestre.

Porém, mesmo que a operadora apresentasse queda em seu número de clientes, a transmissão de canais pagos via satélite é apenas uma parte do vasto império da Sky.

A operadora conta com seus próprios canais fechados ao vivo, como o Sky Crime ou Sky Comedy, e deve lançar em breve o Sky Nature, Sky Documentaries e a Sky History.

Para produzir e financiar conteúdo exclusivo para seus assinantes, em junho de 2019, foi inaugurada a Sky Studios, estando atualmente envolvida na produção de 50 programas em toda a Europa. A recente e aclamada minissérie Chernobyl, por exemplo, foi criada a partir de uma parceria entre a HBO e a Sky Studios.

A empresa também anunciou recentemente a sua intenção de investir na construção de um novo estúdio de TV e cinema de última geração em Elstree, ao norte de Londres. O empreendimento tem apoio da Comcast, além de uma parceria com a empresa irmã NBCUniversal.

A companhia também lançou a sua própria plataforma de vídeos sob demanda, o NOW TV, para bater de frente com outros serviços de streaming.

Já os clientes da Sky Cinema, tem acesso a sucessos de bilheteria de parceiros de estúdio como a Universal, Disney e Warner Brothers. No Reino Unido, alguns filmes chegam na TV no mesmo dia que estreiam no cinema.

Além do investimento em conteúdo, a Sky também é líder da Europa em tecnologias de entretenimento, produzindo equipamentos que se conectam às TVs para oferecer o conteúdo da operadora e de outros serviços de streaming, por meio da caixa Sky Q ou o Sky Ticket.

Ela até mesmo criou o seu próprio dispositivo de realidade virtual (VR), para explorar novas opções de entretenimento.

A Sky Broadband, operando em serviços de internet fixa, foi a primeira prestadora do Reino Unido a oferecer banda larga ilimitada para seus clientes.

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A companhia tem até mesmo a sua própria operadora de telefonia, a Sky mobile, com mais de 1 milhão de clientes. Um dos diferenciais dos seus planos é que os dados não utilizados são acumulados por até três anos, podendo ser trocados por dinheiro, acessórios para celular ou mesmo um novo smartphone.

Todos os planos móveis também oferecem streaming ilimitado nos aplicativos Sky, incluindo o Sky Go, Sky Sports e Sky Kids, sem gastar do plano de dados.

Em recente discurso em uma conferência de mídia, Stephen van Rooyen, CEO da Sky Reino Unido, se diz confiante com a amplitude dos produtos oferecidos pelo conglomerado, e que nenhum outro concorrente, independentemente do tamanho, posição ou recursos poderia se adaptar rápido o suficiente para ameaçar a empresa.

“O que está se tornando bastante claro é que essa mudança acelerada e profunda na demanda dos clientes está criando novos imperativos que exigem que nós — como indústria — pensemos de maneira diferente”, afirmou o executivo.

O que a SKY Brasil vem fazendo?

A SKY Brasil como ela é hoje surgiu em 2006, após a fusão entre a brasileira Sky e a americana DirecTV, ambas atualmente controladas pela AT&T.

Desde o início de suas operações no Brasil, a operadora tem sido pautada pela inovação. Ela foi a primeira empresa a oferecer TV por assinatura via satélite no país.

Além disso, ela foi pioneira em oferecer recursos inéditos no Brasil, como a transmissão de filmes em widescreen (na proporção 16:9) e o uso de multicâmeras para exibir competições e espetáculos. Ela também lançou o primeiro DVR (SKY+), o primeiro serviço de vídeo sob demanda (Cine SKY HD) e o primeiro aplicativo iOS do mercado de TV por assinatura.

Mais recentemente, para se adequar aos novos tempos e enfrentar a concorrência crescente do streaming, em 2018, a operadora lançou o SKY Play, no qual tem se empenhado continuamente para otimizar o acesso ao conteúdo e lançando novas funcionalidades na plataforma.

O SKY Play conta com uma biblioteca de 7 mil títulos, incluindo opções gratuitas de acordo com o pacote contratado, além de filmes clássicos e sucessos recém-saídos das salas de cinema. Entre as inovações está a oferta de canais ao vivo via streaming, algo que a Netflix, por exemplo, ainda não oferece.

Para democratizar o acesso, a empresa também está oferecendo o SKY Pré-Pago, uma opção para que o consumidor possa contratar pacotes de canais, por meio de recargas e micro-recargas, tendo mais autonomia sobre o conteúdo que ele vai consumir, sem ficar atrelado a um contrato mensal.

O serviço possui mais de 70 opções de recargas, com 3, 7, 15 e 30 dias de programação, incluindo canais premium como Telecine, HBO, Première, Combate, Sexy Hot, SexPrive e Playboy TV.

A partir de uma parceria recente com a Elsys, a SKY Brasil visualiza uma oportunidade de crescimento no mercado de pré-pago no país. A iniciativa, neste primeiro estágio, prevê a produção dos equipamentos do SKY Pré-Pago e sua distribuição e comercialização por meio das 30 mil lojas da Rede Elsys.

Além da TV paga, a operadora também oferece internet banda larga para determinadas localidades, por meio de uma rede 4G.

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A SKY vê a extensão territorial do Brasil e as múltiplas realidades da população como uma oportunidade para vender o seu produto e atender a necessidade de consumo de conteúdo dos seus assinantes.

Tanto é que em fevereiro de 2017, a operadora lançou o satélite SKY B1, com o objetivo de expandir a oferta de canais no país.

“Acreditamos que expansão de novos serviços, dispositivos e opções de diversão e informação acompanha as mudanças de hábitos de consumo do público, cada dia mais exigente e conectado”, afirma Gustavo Fonseca, vice-presidente de marketing e estratégia da SKY.

Existe um futuro para a TV via satélite no Brasil?

Atualmente, o core business da SKY Brasil permanece focado, principalmente, na oferta de canais fechados. Com isso, ainda não há uma diversidade de produtos e serviços, a exemplo do que acontece na Sky, na Europa.

Claro, Vivo, e Oi, suas principais concorrentes, estão operando não apenas no mercado de TV por assinatura, mas também na telefonia fixa e móvel, bem como banda larga fixa. As empresas também têm focado seus negócios no mercado corporativo, lançando várias soluções B2B.

Com a compra da DirecTV e SKY Brasil pela AT&T, em 2015, e a provável entrada da operadora americana em terras tupiniquins, talvez essa realidade mude, ampliando a sua oferta de produtos.

A recente aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) da compra da Warner pela AT&T colocou fim a uma longa novela que ainda lançava dúvidas sobre a operação da SKY no Brasil. Portanto, é esperado que novidades possam surgir em breve, tanto em conteúdo quanto em novos produtos e serviços.

O problema é quanto tempo vai demorar para que essas inovações cheguem ao mercado brasileiro. E se chegar, não será tarde demais?

Em um mercado cada vez mais competitivo, exigente e mutável, as empresas que não inovam, acabam ficando para trás. O problema, é que essa mudança está ocorrendo em uma velocidade cada vez maior.

O que antes podia levar décadas, um mercado pode ser totalmente renovado ou mesmo extinto em um período de poucos anos, o que tem gerado dificuldade para que as companhias acompanhem o ritmo das mudanças.

Se as recentes iniciativas da SKY Brasil e da britânica Sky serão suficientes para interromper a queda no mercado da TV paga, somente o tempo dirá. Mas, pelos números atuais, parece que a batalha pode estar sendo vencida pelas plataformas de streaming.

O Disney+, por exemplo, no mês passado, 90 dias após a sua estreia, já conseguiu atingir a marca de 28 milhões de assinantes, algo considerado surpreendente para o mercado de entretenimento e impensável no setor de TV por assinatura tradicional.

Por mais que lançar um satélite em órbita seja extremamente caro, ele ainda é uma alternativa mais barata do que lançar cabos e fibras ópticas em países vastos, como é o caso do Brasil, que conta com populações dispersas em seu território.

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A distribuição de conteúdo online seria uma alternativa viável em termos de custo se comparado aos satélites, mas, para isso, é preciso que a internet de alta velocidade chegue a toda população, o que ainda está longe de ocorrer em muitos países em desenvolvimento.

Dessa forma, o DTH tem seus prós e contras, mas se depender das recentes aquisições de grupos de mídia, como a AT&T e a Comcast, além da longa fila de lançamento de novos satélites de comunicação e de transmissão, as empresas ainda estão confiantes nesse mercado para atingir grandes audiências.

Se as transmissões via satélite estão morrendo ou não, a única certeza é que elas ainda farão parte do mercado de televisão por um bom tempo.

[ATUALIZAÇÃO – 29/03/2020 09H20]

Diferentemente do que foi publicado, a SKY Brasil não é maior operadora de TV por assinatura do país. Ela é líder apenas no segmento DTH, de transmissões via satélite. O texto foi atualizado.

[ATUALIZAÇÃO – 30/03/2020 09H07]

Diferentemente do que foi publicado, a SKY Brasil atualmente não oferece o serviço de banda larga via satélite, apenas por meio do 4G em determinadas localidades. O texto foi atualizado.

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