05/04/2024

Telefonia celular via satélite vai substituir a cobertura das operadoras?

Batizada de “direct to device”, a tecnologia já está sendo testada por empresas que planejam ofertar os serviços móveis via satélite.

Desde de outubro que a Claro e a TIM estão aguardando uma aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para iniciar os testes do serviço de telefonia celular via satélite em algumas regiões do país. A tecnologia batizada de “direct to device”, pode ser uma opção para levar cobertura móvel para áreas em que a comunicação tradicional não chega.

As operadoras brasileiras ainda estão tentando apenas iniciar os testes, mas, embora sejam poucas, há empresas que já estão trabalhando com o serviço. De acordo com um levantamento da entidade 5G Américas, no mundo existem apenas três empresas propondo o D2D capaz de realizar a troca de mensagens de texto, chamadas de voz e provimento de banda larga. São elas: Space X (Starlink), do bilionário Elon Musk, a AST SpaceMobile e a Lynk World.

Starlink

A empresa de comunicação via satélite Starlink já anunciou que pretende lançar o serviço móvel. A promessa é implementar o recurso de mensagens de texto em 2024, e oferecer chamadas de voz, o uso de dados móveis LTE e a conectividade com outros aparelhos inteligentes via Internet das Coisas (IoT) em 2025.

Para isso, a empresa contará com uma constelação de 2.016 satélites de órbita baixa ao redor do mundo, pertencente a Space X, que usará um espectro regular móvel. Segundo a 5G Americas, terá conectividade em linha com a padronização 5G Release 17 do 3GPP.

Assim como a ideia atual do serviço de banda larga via satélites da Starlink, a própria empresa já anunciou que o objetivo é levar conectividade móvel para regiões remotas, que não possuem rede alguma de telefonia celular. Além disso, a companhia ressalta que a compatibilidade seguirá padronização LTE (4G). Ou seja, não espere um desempenho de conexão em banda larga próxima de 1 Gbps, pois não vai acontecer.

Lynk World

A Lynk World é outra empresa capaz de explorar o serviço “direct to device”, sendo que já realizou testes com chamadas de voz via satélite, e inclusive lançou um satélite capaz de emitir sinal do 5G. A Lynk World colocou seu primeiro artefato comercial no espaço em 2022. A empresa promete ter 5 mil satélites.

O serviço de satélite para telefone móvel da companhia passa por testes desde abril deste ano. A ideia é que a constelação funcione como uma espécie de “torre de celular no espaço”, para ofertar planos que permitirão, no mínimo, a troca de mensagens de texto globalmente, por meio de acordos de roaming com as operadoras.

Até onde se sabe, a Lynk World já conta com 15 contratos com prestadoras de serviços de rede móvel em 36 países, representando mais de 240 milhões de clientes. Os testes ocorrem gradualmente, já iniciado em 10 países, segundo a Lynk Global.

Inclusive, a companhia anunciou que planeja listar ações na Nasdaq para expandir sua constelação direta para smartphones por meio da fusão com a Slam Corp, uma empresa de capital aberto liderada pelo ex-jogador profissional de beisebol Alex Rodriguez.

A Lynk Global explica que precisa de mais fundos para apoiar os planos de alcançar 5.000 satélites em órbita baixa da Terra, o suficiente para fornecer serviços contínuos em todo o mundo, para que os parceiros de telecomunicações possam manter os assinantes conectados além do alcance das torres de celular – inclusive em regiões com receita média por usuário mais alta, como os Estados Unidos.

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AST SpaceMobile

A SpaceMobile é a outra empresa que pode oferecer os serviços de telefonia móvel via satélite. Assim como Lynk Global, já realizou, com sucesso, uma chamada de voz utilizando telefones celulares comuns com o satélite BlueWalker 3, que é o maior de baixa órbita no espaço.

Segundo a operadora norte-americana, tratou-se da primeira vez que essa comunicação de mão dupla por voz foi conseguida por meio de conexão satelital e com smartphones comuns – no caso, foi utilizado um Galaxy S22 da Samsung.

A AST é resultado da junção de esforços de várias empresas. Tem em seu board representantes de operadoras, como a Vodafone e a Rakuten. Tem ainda executivos da American Tower e do fundo especializado em infraestrutura KKR. A lista de parceiros inclui também AT&T e o braço do grupo Telefónica (dono da Vivo no Brasil) para a América Latina.

Segundo a 5G Americas, a tele planeja usar 243 satélites de baixa órbita capazes de enviar e receber sinais nas frequências utilizadas pelas redes celulares. Além de prometer capacidade de trocar mensagens de texto, realizar chamadas de voz e acessos de banda larga.

No Brasil, a AST SpaceMobile assinou um memorando de entendimento (MoU) com a TIM para fornecer banda larga móvel por meio de conexão satelital direta a celulares. O acordo tem como objetivo levar a cobertura 4G (dados e voz) para regiões remotas do país. Quando a parceria foi anunciada, a operadora brasileira disse que a conectividade estará disponível “em quase todo o território nacional”, sendo disponibilizada onde não há torres disponíveis.

Entretanto, os primeiros testes técnicos, além de outras etapas, aguardam aprovação regulatória da Anatel, como mencionado no início da matéria. Após a provação, os primeiros testes estão previstos para acontecer nas regiões Norte e Nordeste.

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Telefonia celular via satélite vai substituir a tradicional?

Até o momento, a Starlink e a AST anunciaram que o seu serviço móvel via satélite não seria direcionado diretamente para o consumidor, enquanto que Lynk não deixa claro o direcionamento do negócio. Em qualquer situação, a cobertura acontecerá por meio de uma parceria com uma operadora de telefonia celular.

A ideia do serviço “direct to cell” é levar telefonia celular via satélite para áreas que a operadora não tiver cobertura, como se estivesse em roaming. Ou seja, em localidades em que há sinal celular tradicional, o satelital não deverá funcionar.

Isto porque, a conexão via satélite vai utilizar as mesmas frequências das redes móveis. Além de questões regulatórias (seria preciso aval de reguladores, como a Anatel, e de acordos com as operadoras detentoras das faixas); há limitações técnicas, uma vez que resultaria em interferências.

Outra questão é a qualidade da conexão que será diferente, uma vez que a de um satélite, mesmo de baixa órbita, fica muito mais distante do usuário do que as torres em uma área coberta por telefonia móvel, que se conecta à torre mais próxima do celular do usuário. Ou seja, quanto mais longe, mais a conexão fica deteriorada.

Por isso, inicialmente, toda a tecnologia está sendo focada na troca de mensagens, pelo menos nos primeiros anos, embora já tenham sido realizados testes com chamadas.

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