
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizou, sem impor qualquer restrição, a compra da operadora de satélites Hispasat pelo grupo espanhol Indra. O anúncio, publicado no Diário Oficial da União, marca um passo importante na consolidação da Europa como competidora global no setor espacial, e claro, com impactos no mercado brasileiro.
A transação envolve cifras nada modestas: 725 milhões de euros pela aquisição de 89,68% do capital da Hispasat. Para quem não acompanha esse xadrez orbital tão de perto, vale dizer que a Hispasat é a dona da Hispamar, que atua no Brasil e mantém uma parceria estratégica com a Telebras. Ou seja, tem presença por aqui, ainda que discreta.
O que está por trás da jogada
Mas por que uma empresa de defesa estaria tão interessada em satélites? Bom, a resposta está nos bastidores geopolíticos. A Indra, através da recém criada divisão Indra Space, quer se firmar como protagonista no chamado “domínio militar do espaço”. É um conceito em alta, principalmente após a reativação da corrida espacial, agora com foco em defesa e soberania digital.
E tem um detalhe que faz toda a diferença: o governo espanhol detém 28% da Indra, por meio da Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI). Em outras palavras, essa movimentação não é só empresarial; é política, estratégica e tem posicionamento global.
A Europa, que andava um pouco atrás dos Estados Unidos e da China nesse segmento, agora tenta se estabelecer como um player de respeito.
E o Brasil nisso tudo?
Embora a Hispasat atue no país apenas comercializando sua capacidade, sem autorização para prestar serviços diretamente, ela tem feito parte de conversas importantes com o governo Lula.
Um dos tópicos mais sensíveis é a conectividade. Em tempos de transformação digital e inclusão digital prometida até para comunidades ribeirinhas, satélites como os da Hispamar têm papel crucial.
O Cade, ao analisar a operação, foi direto: como nenhuma empresa do grupo Indra tem atuação em mercados que se sobrepõem à Hispasat no Brasil, não haveria risco concorrencial. Isso significa que a compra pode seguir sem medo de concentração ou monopólio.
Um olho no céu, outro na regulação
Apesar da aprovação do Cade, o negócio ainda precisa passar pelo crivo de outras jurisdições, como as de Portugal, Espanha, Colômbia e também obter autorizações de agências reguladoras como a Anatel, no caso brasileiro.
Isso pode levar algum tempo, mas o sinal está claro: a Indra quer chegar longe, e o espaço, definitivamente, é o novo campo de batalha, seja comercial, militar ou geopolítico.
Agora, uma pergunta fica no ar: até que ponto a presença cada vez mais ativa de potências estrangeiras no mercado satelital brasileiro pode ser benéfica para nossa soberania tecnológica?
E mais, estamos preparados para essa nova corrida espacial que já não se limita a foguetes, mas abrange dados, infraestrutura e, claro, interesses nacionais? A resposta, por enquanto, segue em órbita.