
Pode parecer estranho à primeira vista, mas o maior risco à internet brasileira – essa que você usa para enviar mensagens, assistir vídeos e, provavelmente, ler este texto – não está nas profundezas do oceano.
Está aqui, bem ao nosso lado, em terra firme. Um novo relatório da Anatel em parceria com o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) traz um alerta direto e incômodo: os pontos onde os cabos submarinos “aterram” no Brasil são vulneráveis, e essa fragilidade pode afetar, e muito, a conectividade do país.
O documento chama atenção para a falta de proteção nos chamados beach manholes (BMHs), que são estruturas onde os cabos chegam do mar e conectam-se à rede terrestre.
Em muitos casos, essas caixas passam despercebidas, confundidas com simples bueiros. E aí está o problema, escavações urbanas, obras na praia, reformas de calçadas, qualquer intervenção mal planejada pode romper uma fibra ótica vital. Não é exagero, isso já aconteceu.
Quase tudo depende deles
Se você acha que satélites dão conta da internet internacional, está enganado. Segundo o próprio relatório, mais de 97% do tráfego de dados entre continentes depende de cabos submarinos.
No Brasil, são 16 cabos ativos conectando o país com a América do Norte, Europa e África. Só Fortaleza, no Ceará, abriga mais de dez pontos de aterragem, além de diversos data centers, consolidando-se como um hub digital de peso no cenário global.
Além da capital cearense, outras cidades como Praia Grande (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA) também operam estruturas essenciais. No entanto, o risco não está apenas no solo brasileiro.
No mundo todo, 87% dos incidentes com cabos submarinos são causados por ação humana, aponta a agência europeia ENISA. Pesca de arrasto, ancoragens indevidas, escavações marítimas, tudo isso pode cortar, danificar ou até sabotar essas linhas invisíveis que sustentam o mundo digital.
Hora de agir: o exemplo vem de fora
O Brasil ainda engatinha quando o assunto é proteger essa infraestrutura. Países como Austrália e Nova Zelândia já criaram zonas de proteção de cabos, com leis específicas e mapeamentos detalhados para impedir que obras interfiram em áreas sensíveis. O relatório recomenda que o Brasil siga pelo mesmo caminho.
Aliás, as sugestões não param por aí, há propostas de criar sistemas de monitoramento, instalar barreiras físicas, promover campanhas de conscientização e até firmar acordos internacionais para fortalecer a defesa desses cabos.
No total, são 17 recomendações que, se saírem do papel, podem garantir maior resiliência à nossa rede e evitar que o país fique “no escuro digital” por um erro de pá.
E agora, Brasil?
O recado foi dado. A Anatel e o GSI não apenas apontaram os riscos, como também fizeram visitas técnicas em Fortaleza, Rio de Janeiro e até em Portugal, observando boas práticas e dialogando com operadoras como Claro, V.tal e Telxius.
O próximo passo depende de articulação. Operadoras, governos locais, reguladores e o setor privado precisam sentar à mesa. A questão é simples, mas urgente! Sem internet o país para e esse risco, ao que tudo indica, não está só no fundo do mar… está debaixo dos nossos pés.