
Não é todo dia que um país europeu resolve disputar espaço, literalmente, com Elon Musk. Mas a Alemanha, dona da maior economia da União Europeia, decidiu que não dá mais para depender de sistemas estrangeiros quando o assunto é conectividade via satélite.
De acordo com o jornal econômico Handelsblatt, as Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) estão planejando lançar uma constelação de centenas de satélites de órbita baixa (LEO) nos próximos anos. A ideia? Ter algo próprio, similar ao serviço oferecido pela americana Starlink.
Apesar de parecer muito ambicioso, também é um movimento estratégico, em um momento que segurança digital e soberania tecnológica viraram prioridade absoluta em vários gabinetes da Europa.
Soberania digital: um debate cada vez mais terrestre
A proposta alemã surge em meio a uma crescente inquietação com a influência norte-americana sobre redes e sistemas de infraestrutura digital. Um dos gatilhos recentes dessa preocupação foi a ameaça, por parte das autoridades dos EUA, de cortar o acesso da Starlink à Ucrânia, um episódio que, convenhamos, acendeu o alerta geral na União Europeia.
Lembramos que, em tempos de guerra e instabilidade geopolítica, depender de uma empresa privada baseada fora do continente é, no mínimo, arriscado.
Hoje, a Bundeswehr opera com alguns satélites voltados à comunicação e observação. O novo projeto representaria uma mudança de escala gigantesca, com impacto direto na forma como a Alemanha lida com segurança, defesa e conectividade civil.
Uma constelação estratégica e cheia de mistérios
Embora os objetivos estejam cada vez mais claros, detalhes sobre o projeto seguem guardados a sete chaves. Nem orçamento, nem o número exato de satélites foi divulgado até agora.
O que se sabe é que a previsão de conclusão da frota é para 2029, e o foco será garantir conectividade segura e independente, tanto para fins militares quanto para uso civil, especialmente em áreas remotas.
Esse tipo de infraestrutura, vale lembrar, é vital em situações emergenciais, zonas de conflito ou simplesmente em locais onde cabos de fibra óptica não chegam e não vão chegar tão cedo.
União Europeia também acordou
A Alemanha não está sozinha nessa jornada. A União Europeia como um todo tem se mostrado preocupada com o domínio quase absoluto da Starlink no setor.
No fim de 2023, o bloco assinou o contrato do projeto IRIS², uma constelação multi-órbita com previsão de 290 satélites. Se espera que o investimento ultrapasse os 11 bilhões de euros, com operação prevista para começar em 2030.
O IRIS² é, na prática, o primeiro grande passo da UE para construir sua própria estrutura de comunicações espaciais, algo que mistura tecnologia de ponta, interesses comerciais e, claro, muita geopolítica.
Corrida pelo céu, mas com os pés no chão
Em um mundo onde o digital se tornou inseparável do físico, pense em drones, monitoramento de fronteiras, redes militares, mas também no Wi-Fi da sua casa… quem controla a infraestrutura, controla tudo. Portanto, Berlim, ao que tudo indica, quer deixar de ser apenas usuária para assumir um papel mais ativo nesse tabuleiro.