
O empresário Carlos Slim, bilionário mexicano dono da América Móvil — controladora da Claro no Brasil e em outros países da América Latina — foi alvo de uma campanha secreta de desinformação operada de dentro da sede da maior emissora do México, a Televisa.
A revelação foi feita pelo site Aristegui Noticias, em uma reportagem que expõe uma complexa rede de fake news coordenada pela equipe da emissora. Batizada de “Televisa Leaks”, a investigação é baseada em mais de 5 terabytes de dados internos vazados, que incluem vídeos manipulados, conversas de WhatsApp, scripts, memes e documentos que detalham os ataques contra jornalistas, empresários e autoridades públicas.
Segundo o material revelado, Carlos Slim foi um dos principais alvos da operação, que tentava ligá-lo ao colapso da Linha 12 do metrô da Cidade do México, ocorrido em 2021. A tragédia, que matou 26 pessoas, virou palco de disputa política e narrativa — e a Televisa teria aproveitado o episódio para responsabilizar empresas ligadas ao grupo de Slim, minando sua imagem pública.
Além disso, o empresário foi acusado em conteúdos difamatórios de tentar privatizar a liga mexicana de futebol, em uma suposta tentativa de enfraquecer a posição da Televisa na disputa pelos direitos de transmissão da seleção nacional.
Conflito entre magnatas ganha novo capítulo
O vazamento chegou pouco tempo depois de outro bilionário, Elon Musk, usar sua rede social X (antigo Twitter) para atacar Slim. Em uma postagem, Musk corroborou a ideia de o empresário mexicano ter ligação com cartéis de drogas no México.
A Televisa, que tradicionalmente detém forte influência sobre a política e o mercado de comunicação do México, é também concorrente direta em diversas frentes, inclusive no universo do entretenimento esportivo — uma das áreas em que Slim tem investido com mais força nos últimos anos.
Como funcionava o esquema de ataques
A investigação revelou que a operação foi conduzida por uma equipe chamada Palomar, que atuava diretamente nas dependências da Televisa na Cidade do México. A estrutura contava com apoio da empresa Metrics Index, especializada em estratégias digitais, e executava campanhas com o uso de bots, contas falsas e vídeos manipulados.
O comando da operação, segundo o site, estaria nas mãos do analista político Javier Tejado Dondé, com conhecimento de altos executivos da emissora, incluindo Rubén Acosta Montoya (diretor de Mídia da TelevisaUnivision) e Dora Alicia Martínez Valero, ex-diretora de assuntos eleitorais da empresa.
Ataques iam além do setor privado
Apesar do foco em Slim, a operação não mirava apenas empresários. O vazamento indica que a Palomar também atuou para beneficiar o juiz Arturo Zaldívar, eleito presidente da Suprema Corte do México em 2019. Em troca do apoio, a Televisa teria sido agraciada com contratos públicos, inclusive para a produção de documentários.
Outros alvos incluíram jornalistas independentes, como Carmen Aristegui, autora da investigação. Seu nome aparece citado mais de 300 vezes nos arquivos vazados, e há evidências de que seus conteúdos eram monitorados pela Televisa, que reagia com enxurradas de desinformação sempre que se sentia ameaçada por alguma reportagem.
E o impacto para o setor de telecom?
Para analistas, a revelação traz um novo alerta sobre a disputa por poder e influência entre conglomerados de mídia e gigantes da tecnologia e telecomunicações. Slim, com negócios que envolvem desde infraestrutura até telefonia móvel, enfrenta pressão de diversos lados — e agora se vê como alvo de uma guerra narrativa dentro de seu próprio país.
O caso também mostra como empresas de mídia podem usar suas estruturas para influenciar o debate público e tentar desestabilizar concorrentes. No ambiente latino-americano, onde o setor de telecomunicações ainda convive com fortes barreiras regulatórias, narrativas públicas podem afetar decisões políticas e econômicas de forma decisiva.
A Televisa não comentou as acusações.