08/11/2024

TV aberta é para sempre: Amauri Soares defende o futuro da televisão tradicional

Amauri Soares, diretor da TV Globo, explica por que a TV aberta ainda tem espaço mesmo com a concorrência do streaming.

Nos últimos anos, o cenário da televisão aberta tem sido constantemente questionado. Com o avanço dos serviços de streaming e a proliferação das redes sociais, muitos acreditam que a era da TV tradicional está com os dias contados. No entanto, Amauri Soares, diretor da TV Globo, tem uma visão diferente. Ele aposta que a fórmula que consagrou a emissora e a TV aberta brasileira segue relevante, afirmando: “TV aberta é para sempre.”

Executivo Amauri Soares de terno falando ao microfone, segurando um cartão na outra mão. O fundo apresenta o logo 'Minha Operadora' no canto superior esquerdo e o logo da 'TV Globo' à direita, com um fundo azul e branco.
Foto: Reprodução/Camila Cara/EF Studio/Memória Globo

Aos 58 anos, Soares ocupa uma das cadeiras mais importantes da televisão nacional, sendo responsável por comandar a maior emissora do país e suas 123 afiliadas, além dos Estúdios Globo, localizados na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Com 38 anos de carreira na emissora, onde começou como repórter e chegou a editor-chefe do Jornal Nacional, ele defende com convicção que a TV aberta ainda tem um papel essencial na vida dos brasileiros.

Em entrevista para a revista Veja, Amauri Soares, diretor da TV Globo, explicou por que a TV aberta ainda tem espaço mesmo com a concorrência do streaming.

A fórmula da TV aberta

Soares acredita que o segredo da sobrevivência da televisão aberta está na forma como ela consegue manter um diálogo com todos os públicos. Em um cenário onde o streaming e as redes sociais utilizam algoritmos para direcionar conteúdos personalizados, a TV aberta segue o caminho oposto.

“A televisão aberta tem uma grade fixa que respeita hábitos e ao mesmo tempo quer surpreender. Ela é uma praça pública onde todos podem se reunir para discutir os mesmos temas, algo que as plataformas digitais ainda não conseguiram replicar”.

Mesmo com a popularização dos serviços de vídeo sob demanda, programas como novelas, realities shows e até eventos esportivos transmitidos pela TV aberta continuam atraindo milhões de espectadores. Segundo Soares, o impacto desses conteúdos vai além da audiência tradicional medida pela televisão.

“Quando o Big Brother Brasil está no ar, quase 96% de tudo o que se fala em redes sociais sobre conteúdo audiovisual no país gira em torno do programa”.

Audiência e relevância

Embora a audiência de hoje seja menor comparada a décadas passadas, Amauri Soares garante que a TV Globo continua relevante. Toda semana, cerca de 136 milhões de pessoas assistem à emissora, com novelas alcançando até 70 milhões de espectadores. Para ele, essa abrangência demonstra que a televisão aberta mantém seu papel central na comunicação de massa e na sociedade brasileira.

Além disso, o executivo afirma que a repercussão dos programas vai além das telas. Muitos dos conteúdos transmitidos pela Globo acabam sendo discutidos e compartilhados nas redes sociais, expandindo seu alcance para além da audiência tradicional.

“O impacto da TV aberta vai muito além da audiência tradicional. Ele reverbera nas redes e no cotidiano das pessoas”.

O futuro da televisão e o streaming

Com o surgimento e o fortalecimento das plataformas de streaming, alguns questionam se o modelo tradicional da TV aberta está se tornando obsoleto. No entanto, Amauri Soares vê uma coexistência saudável entre os dois formatos. Ele acredita que as novelas e os programas tradicionais continuarão a atrair milhões de espectadores, enquanto as plataformas digitais cumprem um papel complementar.

“A telenovela é parte do nosso DNA, ajudou a formar a identidade brasileira. Não há outro gênero que consiga fazer uma leitura tão sensível dos anseios da sociedade quanto as novelas. Mesmo com o avanço do streaming, a audiência das novelas da Globo ainda é gigante”.

Além disso, o diretor destaca que a emissora está investindo na produção de filmes e documentários, que podem ser exibidos tanto na TV aberta quanto no Globoplay, sua plataforma de streaming, e até nos cinemas. A ideia é oferecer aos telespectadores e assinantes do Globoplay conteúdos variados e de alta qualidade, mantendo a tradição de inovar no entretenimento.

Mudanças no elenco e na produção

Nos últimos anos, a TV Globo implementou diversas mudanças no seu modelo de contratação de artistas, deixando de lado os contratos exclusivos de longo prazo e adotando o formato de contratação por obra. Segundo Soares, essa mudança foi necessária para garantir maior flexibilidade e diversidade nos elencos das produções da emissora.

“Ao invés de ter 90% do elenco fixo, hoje trabalhamos com uma maior variedade de atores. Isso nos permite abrir o leque e trazer novas vozes e talentos para nossas produções”.

Ainda assim, alguns nomes consagrados da emissora, como Susana Vieira, Ary Fontoura e Ney Latorraca, continuam com contratos exclusivos, devido à relevância histórica e à importância desses talentos para a Globo.

Soares também menciona que atores de destaque, como Adriana Esteves e Cauã Reymond, seguem com contratos de longa duração, por estarem envolvidos em múltiplas produções.

Inteligência artificial e o futuro da criação

Outro ponto interessante abordado por Amauri Soares é o uso de inteligência artificial (IA) na criação de conteúdo. Segundo ele, embora a Globo esteja experimentando a tecnologia, não há risco de roteiristas e autores serem substituídos.

“A criação é e seguirá sendo 100% humana. A IA pode ser uma ferramenta de apoio, mas o controle da narrativa sempre será dos autores”.

Recentemente, a emissora lançou um concurso interno para que autores pudessem criar histórias com apoio da IA. A vencedora foi uma escritora de São Paulo, que utilizou a tecnologia como suporte para desenvolver sua trama. No entanto, Soares reforça que a inteligência artificial não substitui a criatividade humana, mas pode ser uma ferramenta interessante para facilitar processos criativos.

O impacto da TV aberta na sociedade

Para Amauri Soares, a televisão tem um papel fundamental na formação da sociedade brasileira e continua sendo um dos meios mais poderosos de comunicação. Ele destaca que a TV aberta tem a capacidade de dialogar com todos os públicos, de todas as regiões do país, algo que as plataformas digitais ainda não conseguem replicar com a mesma eficácia.

“A televisão aberta é uma ferramenta poderosa de transformação da realidade. Ela faz parte da vida das pessoas e continuará sendo relevante por muito tempo”.

Apesar das mudanças no mercado e da crescente concorrência das plataformas digitais, Amauri Soares permanece otimista. Para ele, a TV aberta continuará a evoluir e a desempenhar um papel crucial no entretenimento e na informação dos brasileiros, adaptando-se aos novos tempos sem perder sua essência.

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