
A Telefónica, controladora da Vivo no Brasil, anunciou a venda integral de sua operação no Equador para o grupo Millicom, responsável pela marca Tigo. Avaliada em US$ 380 milhões, a transação ainda depende da aprovação regulatória pelas autoridades locais, mas já sinaliza uma virada estratégica tanto para a espanhola quanto para sua compradora.
Com cerca de 5 milhões de conexões móveis e 28% de participação de mercado, a “Movistar Equador” é a segunda maior operadora do país. A venda integra o plano da Telefónica de reduzir gradualmente sua atuação na América Latina — com exceção do Brasil, considerado mercado prioritário — e focar em mercados que tragam maior retorno financeiro e estabilidade operacional.
A transação foi celebrada pela Millicom como uma oportunidade de expansão em um cenário econômico favorável. O grupo destacou que o Equador é uma economia dolarizada, com fundamentos macroeconômicos estáveis, o que proporciona um ambiente propício para investimentos de longo prazo.
Segundo o CEO da Millicom, Marcelo Benítez, a decisão foi motivada por vários fatores estratégicos. “O Equador é um mercado digital dinâmico, com população jovem, urbanizada e conectada. A integração da Movistar à Tigo amplia nossa escala operacional e fortalece nossa presença em países-chave da América do Sul”, afirmou.
Por que o Equador é tão atrativo?
De acordo com dados macroeconômicos recentes, o país tem cerca de 18,5 milhões de habitantes — 66% vivendo em áreas urbanas — e uma média etária de 32,4 anos. O déficit fiscal equatoriano caiu de 3,5% para 1,4% do PIB em um ano, enquanto as reservas internacionais aumentaram em US$ 2,4 bilhões no mesmo período. Além disso, o Equador conta com uma linha de crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI) de US$ 4 bilhões, o que dá ainda mais solidez à economia local.
A confiança da Millicom também se apoia no desempenho do setor de telecomunicações no país. Dados do mercado apontam crescimento de 1,4% nos serviços móveis e de 3,6% na banda larga fixa, mesmo em um cenário de volatilidade econômica global. Isso demonstra um setor resiliente, com demanda crescente e boas perspectivas para inovação e expansão.
Além disso, reformas impulsionadas por organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial têm contribuído para a transparência regulatória e melhoria do ambiente de negócios em áreas estratégicas, como telecomunicações, infraestrutura e energia.

Millicom quer inovar com inclusão digital
Com mais de 46 milhões de clientes em seus mercados e cerca de 14 mil funcionários, a Millicom já opera serviços como Tigo Money (pagamentos digitais), Tigo Sports (conteúdo esportivo) e Tigo ONEtv (TV paga e streaming). A chegada ao Equador permitirá à companhia integrar soluções digitais já testadas em outros mercados, aproveitando a infraestrutura da Movistar e ampliando o acesso à conectividade.
O grupo, com sede em Luxemburgo e atuação consolidada na América Central, Caribe e países como Bolívia, Paraguai e Colômbia, vê no Equador uma plataforma ideal para crescimento sustentável. A diversificação geográfica, segundo a empresa, também contribui para a redução de riscos operacionais.
Impactos e próximos passos
Enquanto o processo de aprovação regulatória segue nas mãos da ARCOTEL (Agência de Regulação e Controle das Telecomunicações), o mercado já especula sobre as mudanças que a Millicom poderá trazer. Ainda não há informações sobre eventuais alterações nas tarifas ou planos oferecidos aos consumidores equatorianos, mas a empresa se comprometeu a manter a qualidade do serviço durante a transição.
Especialistas indicam que a aquisição pode acirrar a concorrência no país e acelerar a digitalização de serviços. A previsão é que a transação seja finalizada até o fim de 2025, caso o processo regulatório transcorra dentro do esperado.
Para a Telefónica, a venda reforça a estratégia de sair de mercados considerados secundários. Após Equador, Colômbia, Peru, Uruguai e Argentina, a companhia mantém atuação reduzida na região (a exemplo de Chile e México), enquanto foca seus recursos em mercados como o Brasil, onde a Vivo lidera em participação de mercado e segue como um dos ativos mais lucrativos do grupo.
Com esse novo capítulo, o mercado latino-americano de telecomunicações passa por uma reconfiguração relevante, na qual grupos como Millicom ganham protagonismo e consolidam posições antes ocupadas por gigantes europeus.