
A violência contra provedores de internet no Ceará tem se intensificado nos últimos dias, com uma facção criminosa promovendo ataques para extorquir as empresas do setor. Somente no início desta semana, dois casos foram registrados em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A polícia investiga a conexão dos crimes e tenta conter a escalada da violência.
Os criminosos exigem que os provedores repassem 50% da mensalidade paga pelos clientes como forma de “autorização” para operar nas áreas dominadas pela facção. Empresas que se recusam a pagar a taxa são alvos de ataques. Desde fevereiro, ao menos oito atentados desse tipo ocorreram, incluindo disparos contra estabelecimentos, incêndios em veículos e sabotagem da infraestrutura de internet.
Na noite de segunda-feira (10), o provedor Acnet teve sua fachada atingida por tiros no bairro Itambé. O estabelecimento estava fechado no momento do crime, e ninguém ficou ferido. Além dos disparos, cabos de internet foram cortados, deixando diversos clientes sem serviço. A empresa confirmou o ataque e afirmou não ter previsão para a retomada dos atendimentos técnicos.
Já na manhã de terça-feira (11), um carro da Brisanet foi alvo de pedradas no bairro Capuan. Ainda não há informações sobre feridos. O caso se soma a um histórico de ataques sistemáticos contra a operadora, que teve veículos incendiados e cabos destruídos em ataques anteriores.
Em resposta à violência crescente, a Polícia Civil do Ceará deflagrou, nesta quarta-feira (12), a “Operação Strike”, que resultou na prisão de 12 suspeitos ligados à facção criminosa. Segundo as autoridades, os presos atuavam diretamente nos ataques e ameaças contra os provedores de internet. A operação também cumpriu 37 mandados de busca e apreensão, incluindo alvos em sedes de provedores clandestinos que podem estar ligados ao crime organizado.
O delegado Márcio Gutiérrez revelou que um dos detidos era o articulador dos ataques em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, enquanto outro suspeito operava um provedor de internet clandestino, utilizado pela facção para expandir seu domínio. A investigação também identificou provedores que cederam às exigências dos criminosos e passaram a operar sob seu controle.

Os ataques têm causado prejuízos milionários ao setor de internet no estado. Segundo fontes do setor, que preferiram não se identificar, o impacto financeiro já ultrapassa R$ 1 milhão, considerando danos materiais, cancelamentos de serviços e custos de segurança.
Em algumas regiões, provedores decidiram suspender suas operações por falta de condições de trabalho. A A4 Telecom anunciou que interrompeu o atendimento nos bairros Pecém e Sítios Novos após ser alvo de ataques. A Brisanet também implementou protocolos de segurança e avalia a continuidade das atividades em áreas de risco.
Diante da gravidade da situação, o governador Elmano de Freitas (PT) criou um grupo especial para combater esses ataques. A força-tarefa inclui a Coordenadoria de Inteligência (Coin) e a Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), além de reforço no policiamento em áreas afetadas.
O secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, afirmou que as prisões realizadas são apenas o começo e que o governo pretende desmantelar a atuação do crime organizado no setor. “Não vamos dar trégua. Cada caso está sendo registrado e investigado com rigor”, declarou.
Com a crescente ameaça dos criminosos e a pressão financeira sobre as empresas, a continuidade dos serviços de internet em diversas regiões – não só do Ceará, mas do Brasil – está em risco. No mês passado, noticiamos aqui no Minha Operadora a suspensão dos serviços da Claro na zona norte do Rio de Janeiro, por causa do crime organizado.
O setor aguarda novas ações do governo para garantir segurança aos trabalhadores e a estabilidade do fornecimento de conexão no estado.
Cronologia dos ataques
- 22 de fevereiro: Dois veículos da Brisanet são incendiados no bairro Jacarecanga, em Fortaleza.
- 6 de março: Carro da Brisanet é incendiado no Conjunto Metropolitano, em Caucaia.
- 7 de março: Fios de uma operadora destruídos em Caridade, deixando 90% da cidade sem internet.
- 9 de março: Empresa atacada no bairro Sítios Novos, um dia após governador anunciar ações contra esses crimes.
- 10 de março: Fachada da Acnet é alvejada por tiros e cabos de internet são cortados em Caucaia.
- 11 de março: Veículo da Brisanet é atacado com pedras em Caucaia.