16/04/2024

Apenas 22% dos brasileiros tem acesso a boa conectividade; veja estudo

Inclusão digital e acesso a rede de internet fixa de qualidade, além de outros pontos, são destaque dessa avaliação feita sobre o Brasil.

Um estudo recente revela que, embora 84% dos brasileiros com 10 anos ou mais tenham acesso à Internet, apenas 22% desfrutam de uma conectividade satisfatória. O estudo, conduzido pelo NIC.br, braço executivo do CGI.br, destaca a lacuna entre o acesso à Internet e sua qualidade percebida.

Intitulado “Conectividade Significativa”, o estudo propõe um método para medir a eficácia do acesso digital da população, visando uma utilização satisfatória dos serviços online. Este estudo será apresentado durante a reunião do G20 deste mês.

Foram estabelecidos nove indicadores para avaliar a conectividade, abrangendo diversas áreas como custo, acessibilidade, qualidade e utilização. Quatro deles concentram-se em aspectos individuais, enquanto os outros cinco focam nas características dos lares.

Os indicadores incluem custo da internet residencial, plano de celular, quantidade de dispositivos por pessoa, presença de computador no domicílio, variedade de dispositivos usados, tipo e velocidade da conexão residencial, frequência de acesso à internet e diversidade de locais de uso.

Os pesquisadores criaram uma escala de conectividade de 0 a 9 com base em 9 variáveis, onde 0 indica ausência e 9 indica presença de todas as características medidas. Os indicadores de acessibilidade financeira tiveram o pior desempenho, seguidos pelos de acesso a equipamentos e qualidade da conexão.

Alexandre Barbosa do Cetic.br|NIC.br destaca a necessidade de ampliar a compreensão da inclusão digital, indo além da quantidade de usuários de internet. Eles investigaram a qualidade da conectividade no Brasil e planejam contribuir para o debate global com sua abordagem analítica, reconhecendo que as condições de acesso mudam com as tecnologias e usos.

“Não estamos defendendo que se trate de uma abordagem única e exclusiva para medir o fenômeno, mas de um exercício analítico, e que terá de ser revisado no futuro. Sabemos que os condicionantes de qualidade de acesso mudam à medida que as tecnologias se modificam, e os usos que as pessoas fazem delas variam. Nossa intenção é contribuir com o debate em nível global a partir de uma experiência concreta”.

Pouca inclusão digital

Um terço (33%) da população brasileira possui pontuações de conectividade de até 2 pontos, enquanto 24% estão na faixa de 3 a 4 pontos. Somando essas proporções, conclui-se que 57% dos brasileiros enfrentam baixa conectividade significativa. Apenas 22% atingem a faixa mais alta (de 7 a 9 pontos), enquanto 20% ficam na faixa de 5 a 6 pontos.

Considerando apenas aqueles que usaram a Internet pelo menos uma vez nos últimos 3 meses, as porcentagens são: 23% com baixa conectividade (0 a 2 pontos), 27% com moderada (3 a 4 pontos), 23% com alta (5 a 6 pontos) e 26% com muito alta (7 a 9 pontos).

Mesmo quem não usa diretamente a Internet pode ter algum nível de conexão, como morar em locais com acesso à Internet, o que pode resultar em benefícios indiretos da rede com a ajuda de familiares ou amigos. Essas informações foram explicadas por Graziela Castello, coordenadora de estudos no Cetic.br.

“Mesmo não usuários diretos de Internet podem apresentar algum grau de conectividade, caso convivam ou residam em local com conexão, por exemplo, o que aumentaria as chances de esse indivíduo ter algum aproveitamento da rede, ainda que de maneira indireta, por meio da ajuda de parentes ou conhecidos”.

A análise histórica da pesquisa TIC Domicílios, conduzida pelo Cetic.br há 19 anos, revela uma melhora gradual na conectividade, diminuindo a disparidade entre diferentes grupos. Em 2017, 48% da população tinha baixa conectividade, enquanto apenas 10% estavam bem conectados, uma diferença de 38 pontos percentuais.

Em 2023, essa diferença diminuiu para 11 pontos percentuais. Apesar dessa tendência positiva, é crucial agir rapidamente para reduzir as disparidades de conectividade no Brasil, que refletem as desigualdades sociais do país.

Dimensões

O estudo analisou a inclusão digital em duas camadas, considerando fatores territoriais, sociodemográficos e socioeconômicos, e avaliando a competência para usar a Internet e as atividades online.

A primeira camada revelou disparidades na inclusão digital, enquanto a segunda avaliou a conectividade e habilidades digitais, ajudando a entender como as pessoas podem aproveitar as oportunidades e gerenciar os riscos online.

Essas análises destacaram que as piores condições de conectividade estão entre grupos historicamente excluídos, como áreas rurais, pessoas de baixa renda e com menos acesso à educação.

Principais dados

O Norte e o Nordeste apresentam as piores condições de conectividade, com apenas 11% e 10% da população, respectivamente, tendo uma boa conectividade, enquanto 44% e 48% (nessa ordem) têm uma conectividade muito baixa. Em contraste, o Sul e o Sudeste têm os melhores índices, com 27% e 31% da população, respectivamente, com boa conectividade.

O tamanho e a localização da cidade de residência também estão relacionados à conectividade. Cidades maiores têm melhor desempenho, e áreas urbanas têm melhor conectividade do que áreas rurais.

Os idosos são os mais vulneráveis à exclusão digital, com 61% deles tendo uma conectividade muito baixa. Contrariando a crença popular, os jovens não têm os melhores indicadores de conectividade; na verdade, a faixa etária com melhor conectividade é entre 25 e 44 anos.

Os homens têm uma conectividade melhor do que as mulheres, e essa disparidade é ainda mais evidente quando se considera a raça. Pessoas brancas têm uma melhor conectividade do que pretas e pardas.

A educação também desempenha um papel importante na conectividade, com pessoas com ensino superior tendo melhores indicadores do que aquelas com ensino fundamental.

Há uma grande discrepância entre as classes sociais, com a maioria das pessoas na classe A tendo uma boa conectividade, enquanto a maioria das pessoas nas classes DE têm uma conectividade muito baixa.

Qualidade de rede e qualidifcação dos usuários

Os pesquisadores investigaram a relação entre diferentes níveis de conectividade significativa e os tipos de uso da Internet, bem como a competência dos brasileiros no uso da rede. Eles avaliaram as habilidades digitais e as atividades realizadas online.

Os resultados, baseados no total de usuários de Internet no país, mostram uma ligação direta entre conectividade significativa e habilidades digitais. Quanto melhor a conectividade, maior a competência técnica para lidar com tecnologias, especialmente entre aqueles com acesso mais frágil à Internet.

Eles também analisaram 14 atividades agrupadas em três categorias principais: comunicação e entretenimento, busca de informações e atividades transacionais. Há uma relação clara entre melhor conectividade e maior realização de atividades online, especialmente aquelas relacionadas à busca de informações e transações online, em comparação com atividades de entretenimento ou sociabilidade.

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