27/04/2024

O impacto social dos carregadores padronizados

Recentemente, a União Europeia aprovou uma norma que obriga todos os fabricantes de celulares e laptops a adotarem a mesma saída para carregadores. O debate, que se estendeu por dez anos, é inédito no assunto e terminou com uma nota afirmando que os fabricantes terão que introduzir a nova medida a partir de 2024.

Fonte: Pexels

Os benefícios prometem valer a pena. Afinal, quem não está cansado de carregar consigo diferentes tipos de carregadores? Como mostra o kit tecnológico de sobrevivência da ExpressVPN, os itens atualmente necessários para uso digital são diversos, como power bank, pen drive, disco rígido externo, cabos e outros. Portanto, poder condensar necessidades em apenas um fio será uma ajuda significativa para todos.

A norma também prevê a garantia da velocidade “harmonizada”. Ou seja, os dispositivos devem ser carregados à mesma velocidade, independentemente do carregador, já que todos serão compatíveis.

Redução do lixo

Inicialmente, o projeto tomou como principal incentivo para a padronização de carregadores a grande quantidade de lixo eletrônico gerado, cuja reciclagem não passa dos 17%. A meta para 2023 é chegar a 30%, lembrando que muitas pessoas ou não sabem ao certo como descartar o lixo ou o mantém consigo. Na Europa, por exemplo, a média é de um celular guardado em casa para cada celular em uso. Daí podemos imaginar quantos cabos devem existir.

Em 2009, a Comissão Europeia alertou sobre a existência de mais de 30 tipos de carregadores no mercado, o que fez com que Samsung, Nokia e Apple assinassem um acordo de intenção para padronizar os modelos.

O acordo não vingou e, após vários embates prolongados, Bruxelas finalmente conseguiu decretá-lo por lei, estimando que a mudança trará 250 milhões de euros em economia por ano aos consumidores.

Apple será a empresa mais afetada

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Se por um lado a nova lei trará economia anual para muitas pessoas, por outro afetará uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo, a Apple. A gigante, que tentou frear a aprovação da norma, argumentou que na prática o resultado seria contrário, aumentando o lixo eletrônico, além de retardar avanços tecnológicos.

Com apenas 21% dos carregadores vendidos no mundo compatíveis com seu telefone, a Apple de qualquer forma já previa a perda dessa batalha e vem trabalhando desde 2021 em novos modelos de celulares compatíveis com a lei europeia.

Ainda assim, a empresa não perde tempo e continua tentando prever formas personalizadas de reter seu público. Um documento recentemente vazado revela que a gigante considera a adoção de um carregador de tomada com duas portas USB-C de 35W, o que permitiria carregar dois dispositivos ao mesmo tempo. Porém, ainda não há confirmação concreta sobre a ideia.

Inclusão social?

Finalmente, um ponto ainda não tão discutido nesse início de mudança, mas que não deverá surpreender se emergir em algum momento, é o impacto que o cabo padronizado pode ter na inclusão social.

Entre tantos modelos de carregadores, estes também se associam ao status que um celular possui. Ao oferecer um carregador diferenciado, a Apple não apenas se distancia dos outros fabricantes, como reafirma o alto valor de seus aparelhos. A padronização de cabos funciona também, portanto, como uma espécie de unificação social. Nas palavras de Ugo Silva Dias, professor de Engenharia Elétrica da UnB, “as pessoas colaboram entre si tanto nas famílias quanto entre amigos. E, caso se esqueça do carregador ou o seu falhar, o outro vai poder te ajudar. Isso torna o processo mais inclusivo”. É uma forma positiva de pensar na mudança a longo prazo.

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