18/04/2024

Nextel luta para se livrar das dívidas e vende sua operação no Chile

Operadora teve que abrir dados até então sigilosos para negociar dívidas com credores e revelou que existem planos de instalar o 4G em São Paulo.

O problemático fornecedor de serviços de comunicações móveis NII Holdings concordou em vender sua unidade Nextel no Chile a um consórcio internacional, informou a empresa nesta segunda-feira (18), dias após ter anunciado que não honraria com o pagamento de juros sobre sua dívida. Essa informação já havia sido divulgada pelo Minha Operadora desde o mês de junho, mas só agora houve a confirmação da venda de participação da operadora no mercado chileno.

A NII, com sede nos Estados Unidos, concretizou a venda de sua operação chilena a Fucata – um conjunto de empresas formado pelo Grupo Veintitrés de Argentina e os grupos de investimentos ISM Capital e Optimun Advisors, do Reino Unido e dos Estados Unidos, respectivamente. A empresa não detalhou os detalhes financeiros do negócio.

Claudio Hidalgo, presidente da Nextel Chile.

Na sexta-feira (15), a NII afirmou que havia decidido não pagar cerca de 118,8 milhões de dólares em juros de notas seniores que venciam naquela data. A companhia afirmou que sob os termos dos títulos de dívida, há um período de 30 dias em que pode buscar negociar alternativas para o pagamento.


A Nextel Chile, que oferece serviços de telefonia celular e banda larga móvel, tem uma rede própria com cobertura nacional e possui mais de 260 mil clientes.

Para conter as dívidas e prejuízos, no ano passado, a NII já havia acertado a venda da Nextel no Peru para a chilena Entel por cerca de 400 milhões de dólares.

No mercado chileno de telecomunicações, a Nextel compete com Entel, Movistar (da espanhola Telefónica – dona da Vivo no Brasil) e com a Claro (da mexicana América Móvil).

NII tenta chegar a acordo com credores

Cerca de dois terços dos credores da NII Holdings, dona da Nextel, já aceitaram fazer um pré-acordo em relação à dívida da companhia, que chega a cerca de US$ 5 bilhões. As negociações vêm sendo conduzidas pelo grupo há meses. São cerca de 100 credores de todos os portes, inclusive pessoas físicas que compraram títulos da companhia em bolsas de valores.

Foi apurado que o grupo quer avançar mais ainda nos pré-acordos. Quanto mais credores alinhados na negociação, menos resistência espera-se do juiz para aprovar um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, que está sendo planejado pela companhia. Um número maior de acordos seria uma demonstração de força da empresa e menos conflito nos procedimentos, com uma conclusão mais rápida. 

Quando chegar ao volume de acordos considerado ideal, a consultoria McKinsey deverá fazer a reformulação do plano estratégico da empresa. Os bancos UBS e Rothschild estão empenhados em buscar novos sócios que queiram investir na holding após a reestruturação, e conversam com conselheiros dos credores.

A negociação prevê que os credores e acionistas que compraram títulos se tornem sócios do grupo. São empresas americanas, fundos de investimentos, bancos, fundos de pensão, enfim, uma gama de investidores que, ao fim do processo de negociação e recuperação judicial serão sócios da nova empresa reestruturada. O percentual a ser detido pelos credores ainda não está definido, mas a estimativa é que supere 50% do capital da empresa. Atualmente, o capital é pulverizado, com poucas ações em tesouraria.


Para conseguir renegociar vencimentos e dívidas com credores, a NII Holdings abriu na última sexta-feira (14), documentos com detalhes da companhia e de seus planos que não eram públicos até então.

As informações mostram que a empresa planeja o lançamento comercial de sua rede 4G/LTE (atualmente disponível somente no Rio de Janeiro) também em São Paulo no período de dois anos, além de exibir detalhes da dívida no Brasil com bancos e com o aluguel de torres.

A companhia norte-americana está atualmente em discussões com credores no Brasil para negociar novos prazos e condições para pagamentos.

A empresa afirmou que em junho possuía US$ 443,1 milhões em empréstimos abertos com bancos locais do nosso país. Essa dívida é referente às dívidas de US$ 261,5 milhões com a Caixa Econômica Federal e US$ 181,6 milhões com o Banco do Brasil.

Há ainda US$ 54 milhões provenientes de obrigações com torres e US$ 366,9 milhões com CDB (títulos de renda fixa nominativos com rendimentos pré ou pós-fixados). No total, o valor preliminar da dívida em junho deste ano já era de US$ 1,454 bilhão.

O documento não cita diretamente na dívida de junho a American Towers, para quem a NII vendeu 1.940 torres no Brasil por R$ 813,8 milhões no final de 2013. A dívida se refere ao aluguel (leaseback) e “obrigações de financiamento”, e já foi maior: em março, era de US$ 125,3 milhões.

A companhia detinha 1.500 torres no Brasil, estimando que entre 600 e 650 dessas torres eram “potencialmente monetizáveis”. As torres restantes são consideradas pela empresa como estratégica ou “ativos sem potencial para colocation”.

A NII espera também que a nova rede de torres “greenfield” (que utilizam postes existentes) possa representar cerca de 10% dos novos sites até 2018.

A possibilidade de recuperação judicial não anula os planos da NII Holdings para manter as operações em funcionamento, pelo menos enquanto não houver ofertas pelos ativos.


Especificamente para o Brasil, a ideia é aumentar a eficiência operacional e financeira, já que a ideia inicial de “construir a base de assinantes 3G está demandando mais capital e tempo do que originalmente planejado”.

A empresa justifica também que credores poderiam “maximizar valor e melhorar a estratégia de êxito” ao dar apoio ao plano da companhia de crescer a base e melhorar a lucratividade. Como parte dessa estratégia, a empresa ressalta o lançamento do 3G no país e do 4G no Rio de Janeiro, onde atual com o espectro de 1,8 GHz.

A previsão de Capex somente para o 4G no Brasil seria de US$ 200 milhões ao longo de cinco anos, e isso inclui o lançamento do serviço de LTE em São Paulo em 2016, embora a empresa não determine qual seria a frequência usada.

A NII já declarou que planeja utilizar a faixa de 800 MHz no formulário enviado à SEC na semana passada. Segue o trecho: “No Brasil e na Argentina, nosso espectro de 800 MHz atual é altamente adjacente, tornando possível o uso desse espectro para suportar futuras tecnologias, incluindo tecnologias baseadas em LTE, se certos requerimentos técnicos, operacionais e regulatórios sejam atendidos, incluindo, por exemplo, a disponibilidade de rede compatível e de equipamentos de assinantes”.

O uso da faixa leva em consideração uma alteração de regras do Serviço Móvel Especializado (SME) na Anatel, que entregaria “de graça” a faixa de 806 MHz a 821 MHz e de 851 MHz a 866 MHz à Nextel, possibilitando a adaptação de outorga para o Serviço Móvel Pessoal (SMP). A norma está em consulta pública.

Isso significa o eventual desligamento do iDEN, migração planejada para ser realizada de forma “proativa e tática” com foco em segmentos chave o que demandaria um longo trabalho.

A Nextel Brasil espera chegar até o final do ano com uma proporção de cerca de 40% da base utilizando a tecnologia 3G/4G.

A base total deverá crescer constantemente com a expansão do 3G até o ano que vem. Após 2015, a NII prevê que o 4G é que levaria os consumidores à operadora. Isso considera mercados que a empresa recentemente entrou ou “vai entrar até o final de 2015”.

Melhoria do Caixa

O projeto de aceleração da NII também inclui o lançamento de planos “agressivos” de olho no mercado de receita média por usuário (ARPU) de médio para alto, algo possível “graças ao ambiente regulatório” do Brasil.


A lucratividade cresceria com ganhos de eficiência de rede e escala, além de lançamento de iniciativas de OSS/BSS, melhoria em áreas como canais de venda e operações com consumidor e queda nos gastos com a rede iDEN, com sites e com custos de interconexão (VU-M).

A NII prevê que ao final deste ano tenha 4,64 milhões de linhas ativas no país, chegando a 7,66 milhões ao final de 2018; crescimento médio anual (CAGR) de 13%. Apesar do crescimento da base em 2014, a receita total deverá cair 14,65%, chegando a US$ 1,8 bilhão.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBTIDA) sairá de US$ 287 milhões para prejuízo de US$ 56 milhões.

A Nextel Brasil enviou à imprensa um comunicado no qual “esclarece que as dívidas não pagas hoje é (sic) um passivo da NII Capital Corp. e NII International Telecom S.C.A.” e que as atividades da controladora “não afetam as operações rotineira no Brasil e nem a capacidade de continuar desenvolvendo um trabalho que garanta melhor entrega aos nossos clientes, gerando valor para os negócios no Brasil”. A empresa ressalta também que “mantém o compromisso com os parceiros e fornecedores”.

A companhia destaca no comunicado “um aumento progressivo da base de clientes com planos competitivos”, dizendo que esforços são adotados para manter o crescimento sustentável. E cita a marca de um milhão de acessos 3G (números de junho), o acordo nacional de roaming com a Vivo, a inclusão de aparelhos mais modernos no portfólio, planos e dados de market share.

“Diante desses números, a Nextel Brasil está confiante nas perspectivas de crescimento planejadas e garante a todos os clientes, colaboradores e fornecedores o empenho em oferecer os melhores produtos e a completa continuidade das atividades e prestação dos serviços móveis no Brasil.”

A operadora foi procurada para explicar se a dívida local com bancos e com torres não afetariam as operações, mas não disponibilizou porta-voz e nem quis dar mais informações.

No México, a segunda operação mais importante para a NII depois do Brasil, o problema continua a ser a percepção da marca junto ao consumidor após o desligamento da rede iDEN da Sprint nos Estados Unidos. Muitos dos usuários mexicanos usavam o push-to-talk (PTT) da Nextel para realizar ligações via rádio para os EUA. Após essa migração forçada para o PTT via 3G, houve queda de qualidade na rede WCDMA da operadora, o que acabou afetando a imagem dela com a própria base.

No entanto, a NII prevê estabilização da operação mexicana em 2015. O plano prevê mais três cidades que deverão ganhar cobertura 4G naquele país neste ano, seguindo com mais expansão em 2015 e um orçamento de Capex para o LTE previsto para entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões em cinco anos.

A empresa espera redução de custos de interconexão por conta de mudanças regulatórias e melhoras operacionais para o período.

A reestruturação seria radical no quadro profissional da NII Holdings e suas subsidiárias. Segundo o plano de negócios da empresa, haveria uma redução de 75% na quantidade de funcionários da companhia em todo o mundo ao final de 2014 em relação ao final de 2013.

A ideia é usar o “excesso de liquidez” das operações locais para recuperar o déficit de caixa da sede, dependendo de acordos de créditos no Brasil e no México.

Reação do Mercado Financeiro

Após o anúncio da venda da Nextel Chile, as ações da empresa dispararam na Nasdaq, fechando a US$ 0,1860, aumento de 35,08% no dia, mas que não compensa, nem de longe, a queda brutal da semana passada.

De 11 de agosto até a sexta-feira passada, a NII registrou uma desvalorização de 78,79% nas ações.

Com informações de Exame e Valor.
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