20/04/2024

Viva a cobertura nacional!

Desde 2002, quando a italiana TIM passou a fazer valer suas licenças para operar em todos os estados brasileiros, há uma brecha entre esta e as demais operadoras concorrentes. E esta brecha punha a TIM em um local de destaque, separava-a de Vivo, Claro, Oi, Brasil Telecom, CTBC, Sercomtel, enfim, separava-a de qualquer outra operadora de celular, pela Cobertura Nacional. Tão visada pelas empresas, Cobertura Nacional é a possibilidade de a operadora oferecer serviços em todos os estados do país, devido à compra de licenças para tal. A TIM já vinha operando em alguns poucos locais do país desde 1998, e foi comprando as referidas licenças, até que em 2002… bum!, inaugurou sua rede nacional de uma só vez.

As vantagens de se ter cobertura em todo o país são inúmeras: começa pelo fato de o cliente saber que, em qualquer estado que for, contará com a rede da operadora para usar normalmente todos os serviços que já usa em sua cidade, como MMS, SMS e WAP. Além disso, não pagará mais taxas para uso do celular em outras redes (o chamado Roaming extra-rede, serviço comumente oferecido pelas operadoras que permite ao cliente usar a rede de outra empresa de celular, no caso de estados não atendidos pela mesma. Por exemplo: clientes Claro GSM que viagem à Amazônia, estado onde a Claro não opera, podem usar a rede GSM da TIM ou Oi. Repare que este serviço funciona desde que as tecnologias usadas por ambas as operadoras sejam compatíveis; aqui no caso, o GSM). Outro fator é o fortalecimento da empresa, que amplia sua base de clientes, aprofundando raízes em todo o território nacional.

A Vivo, empresa que até 2008 (época em que atingiu a cobertura nacional) era detida pela Portugal Telecom (hoje acionista da Oi) e a espanhola Telefónica (que no Brasil também controla a Telefônica de São Paulo), sofria duplamente com o caso da falta de cobertura nacional. O primeiro problema se refere à tecnologia adotada pela Vivo, o CDMA. Considerada mais avançada, porém menos prática, a tecnologia foi adotada apenas pela Vivo, enquanto as demais empresas optaram pelo GSM (a famosa tecnologia “de chip”). Dessa maneira, a cobertura CDMA isolou a Vivo, pois só existia nos estados onde ela operava, e, quando um cliente da empresa viajava a uma localidade fora desta área da atuação (como Ceará, PE ou mesmo Minas Gerais), ficava sem usar o celular. Isso porque o aparelho era CDMA, mas a rede existente nestes outros estados era sempre GSM, o que impedia o funcionamento. Quando muito, o aparelho CDMA era equipado com a possibilidade de operar em rede analógica (AMPS, da época dos celulares “tijorola”), que além de possuir uma péssima qualidade, facilitava a clonagem das linhas. Assim, Vivo tornou-se sinônima de clonagem e alienação tecnológica.

Para resolver esta grave deficiência, que estava canalizando os clientes insatisfeitos da Vivo para TIM e Claro, a operadora fez uma delicada e arriscada manobra: no auge de sua maturidade tecnológica (quando já se aventurava, inclusive, na evolução 3G do CDMA, o EV-DO), ela teve de iniciar a implantação de uma rede GSM, para concorrer em pé de igualdade com as concorrentes. O fato gerou controvérsias, mesmo porque em toda sua existência a empresa sempre tinha promovido sua rede CDMA às custas de duras críticas às limitações do GSM. Também os clientes CDMA ficaram desconfiados, temendo um “abandono” da operadora à esta tecnologia (que ocorreu definitivamente no fim do ano passado). Após a implantação do GSM, que foi bem aceito, a resolução do primeiro problema se efetivava: a Vivo ainda não possuía cobertura nacional, mas poderia oferecê-la aos clientes, através da rede de outras operadoras (como as demais já faziam).
Em setembro de 2007, a operadora conquistou, em leilão da Anatel, o direito de expandir sua cobertura pelos estados em que ainda não atua. Em Minas este problema já tinha se solucionado, pois a Vivo comprou a principal operadora mineira, a Telemig Celular. Assim, os problemas de cobertura nacional saíram da pauta de preocupações da empresa, que pôde expandir nas frequências adquiridas tanto o GSM quanto o CDMA, embora tenha abandonado esta última.

Quem mais se preocupou neste processo foi a rival direta da Vivo, a TIM, que perdeu seu monopólio nacional de cobertura, e deverá explorar outros diferenciais, como seus planos de tarifas bem criativos, para manter seus clientes. Até porque no mesmo ano que a Vivo conseguia sua cobertura nacional (2008), a Oi também fazia um negócio bilionário, onde comprou a operadora Brasil Telecom e passou a atuar em todos os estados brasileiros com a união das duas redes, sem contar na criação de uma nova rede própria na cidade de São Paulo.

A Claro, com a compra de diversas outras pequenas operadoras regionais de telefonia (como a BCP e Americel), também foi aos poucos chegando a todos os cantos do país.

Entretanto, você acha que nós consumidores, ganhamos com o acirramento dessa disputa? Sim, mas desde que as empresas não esqueçam que o principal quesito para o consumidor não é cobertura e nem tecnologia: é qualidade.
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