07/11/2024

Começou a corrida pelo 4G no Brasil

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) publicou o edital para a licitação da rede de internet móvel da chamada quarta geração da telefonia (4G) que é até dez vezes mais rápida do que as tecnologias 3G usadas em smartphones e tablets hoje.

As operadoras de celular terão até a primeira semana de junho para elaborar propostas para o leilão e, caso vençam, precisarão cumprir exigências para construir a infraestrutura necessária no prazo exigido. O plano é que tudo esteja funcionando até abril de 2013, dois meses antes da Copa das Confederações.

Mas há problemas. O primeiro é que o serviço não será barato. “Há avaliações de que no começo o 4G vai ser caro, mesmo por conta da pouca escala e pouco equipamento”, disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. “Mas em compensação é provável que o 3G fique mais barato.”

O governo também acredita que o preço de voz e dados cairá muito rapidamente. A culpa será da concorrência, já que a previsão é de que haverá pelo menos três operadoras para cada capital-sede da Copa. “Elas (as operadoras) vão sair no tapa, vai ser tudo resolvido no mercado”, diz Bernardo.

Sobre o preço, a avaliação das operadoras e do governo é de que, no início, os custos extras com infraestrutura serão repassados ao consumidor e a internet móvel vai ficar mais cara. O presidente da TIM, Luca Luciani, concorda com o ministro. “Os preços dos aparelhos 3G caíram brutalmente em dois anos. Vai acontecer a mesma coisa com o 4G quando este mercado for criado”, disse.

A segunda questão é em relação à velocidade. O que se convencionou chamar de 4G, na verdade, ainda não é exatamente uma “nova geração”. O 4G ideal, que abriga padrões tecnológicos com nomes como HSPA+ Advanced e LTE Advanced e podem chegar a 1 Gbps (dez vezes mais que o 4G atual), deve chegar só em 2013.

Os primeiros países do mundo a incorporar a tecnologia Long Term Evolution (LTE) foram Noruega e Suécia, que optaram pela faixa de 2,5 GHz. A frequência é uma decisão técnica, mas também política, pois por ela se define o público atingido e a finalidade. Quanto mais alta é a frequência, menor é a cobertura de uma antena e maior será a capacidade de transmitir dados. Assim, a opção pelas faixas de 2,5 GHz e 450 MHz se explica pela intenção de atender os grandes centros urbanos (com uma demanda muito grande por dados) e zonas rurais (grandes áreas, menos habitadas).

Diferente desse padrão é a faixa de 700 MHz, adotada principalmente pelos Estados Unidos, e apontada como o meio-termo mais conveniente para o 4G. Essa diversidade de frequências, no entanto, pode criar problemas, já que celulares e modems são fabricados para atender faixas específicas.

Após anunciar o novo iPad, com conexão 4G, a Apple foi acusada de propaganda enganosa pelos australianos, que não conseguiram fazer a conexão funcionar. O tablet foi feito para atender as frequências de 700 MHz e 2,1 GHz. O detalhe é que, na Austrália, a faixa do 4G é a de 1,8 GHz, porque, assim como no Brasil, lá a faixa de 700 MHz é ocupada pela TV analógica.

“Pelo que sei, o governo brasileiro já estuda formas de fazer o ‘apagão analógico’ acontecer bem antes do prazo de 2016”, disse Erasmo Rojas, diretor da associação 4G Americas. O ministro Paulo Bernardo diz estar analisando planos de incentivos às emissoras que concordarem acelerar o processo de digitalização do sinal, mas o assunto ficará para o ano que vem.

Durante os eventos esportivos, o setor privado já prevê problemas por causa dos padrões, já que muitos aparelhos não funcionarão na rede brasileira e haverá pouca oferta de aparelhos compatíveis.

“Colocar a rede no ar utilizando as antenas existentes é um processo rápido. O problema é completar os buracos de cobertura e ter dispositivos 4G disponíveis a preços acessíveis”, disse Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. “O 4G na Copa é mais uma questão de marketing pois poucos turistas terão aparelhos 4G na frequência de 2,5 GHz.” Ele aposta em HSPA+ (uma tecnologia intermediária, apelidada de 3,5G) e na cobertura com Wi-Fi para eliminar congestionamentos de dados.

A Samsung disse que já conversou com operadoras e planeja lançar aparelhos 4G assim que a tecnologia for adotada no País. A estratégia deve se tornar regra até o ano que vem. “A tendência no mundo é de que as fabricantes ofereçam aparelhos de acordo com a faixa de cada país. No fim, ficará tudo dividido entre 700 MHz e 2,5 GHz”, diz Erasmo Rojas.

No dia 12 de junho serão leiloadas as faixas de 450 MHz, para levar internet à zona rural do Brasil, e a de 2,5 GHz, a ser ocupada pelas operadoras que usarão a tecnologia LTE, a mais rápida.

O interesse pelo 4G é grande e essa e outras condições impostas são estratégicas para o governo. “Talvez seja a nossa última grande oportunidade de começar a dar soluções para a zona rural”, diz o ministro Paulo Bernardo. “As operadoras querem atender o público que paga mais, a gente corre atrás para eles atenderem também quem tem poder aquisitivo menor.” Pela regra, as empresas terão de atender todos os municípios da zona rural até o fim de 2015. Além do compromisso com a zona rural, as operadoras vencedoras terão a responsabilidade de garantir 4G em todos os municípios com mais de 30 mil habitantes até 2017, totalizar a cobertura de 3G gradativamente até 2019 e reservar cotas de aquisição para equipamentos fabricados no Brasil.
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