
Perder o sinal do celular e depender de mapas offline ou da memória é cena comum para quem viaja pelas estradas do Brasil. Apesar dos avanços nas redes de telecomunicações nas áreas urbanas, a conectividade nas rodovias brasileiras ainda engatinha: apenas 47% dos 445 mil quilômetros de rodovias federais e estaduais contam com cobertura 4G de ao menos uma operadora, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O cenário piora quando se analisa o 5G, que não alcança nem 12% da malha rodoviária nacional.
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Brasil atrás de outros países
A situação contrasta fortemente com outros países. Nos Estados Unidos e no México, 90% das rodovias já dispõem de conexão móvel. Na China, o percentual chega a 80% das vias conectadas. A França estabeleceu como meta atingir 100% de cobertura até 2027. Para especialistas brasileiros, é urgente acelerar investimentos e apertar a regulação para reduzir esse atraso tecnológico que afeta motoristas, empresas de transporte e até comunidades próximas às estradas.

Três frentes de ação do governo
O governo federal trabalha em três frentes para mudar esse panorama já em 2026. As estratégias envolvem roaming obrigatório entre operadoras, inclusão de obrigações no próximo leilão de frequências e mudanças nos contratos de concessão. Somadas, as iniciativas podem elevar a conectividade dos atuais 24 mil quilômetros por operadora para aproximadamente 45 mil quilômetros dos 75 mil quilômetros de rodovias federais pavimentadas, segundo cálculos do secretário nacional de Telecomunicações, Hermano Barros Tercius.
1. Roaming obrigatório nas estradas
A primeira medida é a implementação obrigatória do roaming entre operadoras nas rodovias. Com isso, um usuário da TIM, por exemplo, poderá usar automaticamente o sinal da Claro ou Vivo onde sua operadora não oferece cobertura. Segundo o Ministério das Comunicações, apenas essa ação pode aumentar em 50% a cobertura disponível para cada usuário, elevando o serviço de cerca de 24 mil para aproximadamente 36 mil quilômetros por operadora.
2. Leilão de frequência com rodovias prioritárias
A segunda estratégia envolve o próximo leilão de frequência móvel de 700 MHz, previsto ainda para este ano após aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU). A Anatel pretende incluir como obrigação a conectividade em cinco ou seis rodovias federais prioritárias. O foco principal é garantir 100% de cobertura 4G na BR-101, uma das estradas mais movimentadas do país, que se estende do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Outras vias importantes como BR-116, BR-163, BR-242 e BR-364 também devem ser contempladas no edital.
Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel, explica que esta será a segunda tentativa de vincular conectividade rodoviária a leilões de frequência. Em 2021, a Winity arrematou uma frequência nacional com a obrigação de conectar todas as vias federais, mas devolveu a licença por inviabilidade operacional. As empresas regionais vencedoras do leilão do 5G já sinalizaram interesse na nova frequência. O prazo previsto é de três anos para atingir cobertura completa nas rodovias prioritárias.
3. Migração de contratos para regime de autorização
A terceira frente do governo é a migração dos contratos de concessão das operadoras para o regime de autorização, modelo com regras mais flexíveis. Esse processo deve gerar recursos financeiros que poderão ser direcionados para ampliar a cobertura de internet nas estradas brasileiras.
Concessionárias investem em conectividade
Paralelamente, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizou no ano passado todas as concessionárias com contratos antigos a desenvolverem projetos de conectividade, com custos extras repassados aos usuários via tarifas de pedágio. Desde 2018, com a 4ª Etapa de Concessões, a conexão passou a ser obrigação contratual regulatória, substituindo os antigos call boxes. Dos 26 leilões já realizados, dez neste ano, há compromisso de levar 100% de conexão nos primeiros cinco ou oito anos, dependendo do contrato.
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Operadoras expandem redes em parceria
As operadoras estão expandindo suas redes através de parcerias com concessionárias de rodovias. A TIM, que possui a maior rede em estradas atualmente, planeja ampliar a cobertura 4G de 7,6 mil para 10 mil quilômetros neste ano. Na Via Dutra, entre São Paulo e Seropédica (RJ), a empresa observou aumento médio de 40% no volume de dados por usuário, região que transporta cerca de 50% do PIB nacional. A Vivo trabalha em projeto na BR-163, no Mato Grosso, que levará cobertura a 850 quilômetros entre Itiquira e Sinop em dois anos. Já a Claro, responsável por conectar mais de 32% das rodovias estaduais e federais, prevê mais de 500 intervenções neste ano, concentradas nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
As concessionárias também estão investindo pesado. O grupo EcoRodovias já aplicou R$ 130 milhões e prevê mais R$ 50 milhões, alcançando 100% de cobertura 4G nas rodovias Araguaia (Tocantins e Goiás) e Noroeste Paulista. A Motiva, que administra a Via Dutra, espera beneficiar 2,5 mil quilômetros nos próximos três anos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul. A conectividade permite ainda novos serviços, como aplicativos para acionar resgates com envio automático de localização e consulta de condições de tráfego em tempo real.





