19/04/2024

Há 10 anos, Claro iniciava o desligamento de sua rede TDMA

Em 2009 a Claro iniciou o desligamento da sua rede TDMA, em virtude da popularização e melhorias oferecidas pelo GSM. Entenda essa história.


Na década de 90 atuava no interior e litoral de São Paulo uma operadora chamada TESS, que viria se tornar, a partir de 2003, a Claro, do grupo mexicano América Móvil, devido a fusão de diversas companhias. Além da TESS, estavam nesse bolo a  ATL, BCP Nordeste, BCP São Paulo, Claro Digital e Americel. O investimento foi maciço: US$ 800 milhões.

A relação com o passado da TESS e até com outras das aquisições que resultaram no grupo Claro, fez com que a companhia iniciasse suas operações baseada na tecnologia TDMA (Time Division Multiple Access / “Acesso Múltiplo por Divisão de Tempo).


Antes de prosseguir é bom relembrar que a evolução da telefonia móvel não passa apenas por telefones celulares mais modernos, há também uma  enorme contribuição das tecnologias com seus conjuntos de protocolos e aplicações que determinam como acontecerá a troca de dados.
Hoje completa 10 anos que a Claro iniciou o desligamento da sua rede TDMA, processo que inicialmente passou por Rio Grande do Sul, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Porém, até esse ponto, muita coisa aconteceu, e mudanças significativas de tecnologias tiveram que ser colocadas em prática. Vamos voltar um pouco no tempo e relembrar como tudo isso ocorreu.
A tecnologia móvel é categorizada em gerações (é desse principio que nos referimos a 2G, 3G, 4G etc). Podemos dizer que a primeira geração de telefonia móvel começou nos anos 70, mais precisamente em 1973, quando foi realizada a primeira ligação através de um aparelho celular, que em sua essência carregava o conceito de um telefone que não era mais fixo, que poderia ser transportado. 

Esse primeiro aparelho foi o Motorola DynaTac 8000X, que pesava 794 gramas e tinha 33 centímetros de altura. Seu design é icônico!
Motorola DynaTac 8000X
Nessa primeira geração o padrão para a transmissão – inicialmente só voz – era o FDMA (Frequency Division Multiple Access, ou Múltiplo Acesso por Divisão de Frequência). Conforme é explicado no livro “Sistemas Modernos de Comunicações Wireless” (Bookman / 2008) o sistema FDMA opera particionando o espectro de rádio pré definido (isto é, pré-definido por agências reguladoras para comunicações wireless) entre os usuários potenciais. Portanto, o sistema FDMA pertence ao mundo analógico. 
Essa é uma boa definição ao FDMA, porque está em conformidade com aquela fase de implementação da telefonia móvel, que ainda era meio experimental. 

O FDMA garantia uma boa cobertura, em contrapartida o número de usuários que poderiam desfrutar era limitado, já que cada um era alocado para uma frequência distinta. Como o ciclo de desenvolvimento de tecnologias é uma busca incessante na resolução de problemas, novos padrões tiveram que ser lançados, até para que pudessem suprir uma demanda cada vez maior pela telefonia móvel.

Entra em cena então a segunda geração móvel, uma seleção de novas padronagens que eram aplicadas de acordo com os interesses das nações. A Europa, por exemplo, caminhou em sentido do GSM, o CDMA e o TDMA nos Estados Unidos e o PDC no Japão.
Falando estritamente do TDMA, que tem relação direta com a fase inicial da Claro, ele é uma evolução direta em relação ao FDMA.

Nesta tecnologia há o particionamento de intervalos de tempo pré-definidos entre os usuários, que podem estar alocados em um mesmo slot (porém o CDMA se provou melhor porque a divisão é realizada em toda a faixa de frequência, ampliando ainda mais o escopo em relação a quantidade de chamadas realizadas). Com o TDMA também passou a ser oferecido o suporte ao SMS e internet WAP.
Um exemplo de aparelho celular compatível com TDMA e que fez muito sucesso no Brasil é o Nokia 5120, um dos modelos lembrados por seu aspecto “tijolão” e por trazer o lendário jogo da cobrinha. 
Nokia 5120
Além do TDMA, a Claro passou a operar, no mesmo ano de sua chegada ao mercado, em GSM. A companhia mantinha o legado do TDMA nos estados em que já operava, mas tinha como alvo o avanço por outras regiões em torno do GSM. 


Por exemplo, em novembro de 2003 a Claro anunciou que passaria a operar no sul do país com a tecnologia GSM, com a tarifa dos planos variando entre R$ 35 e R$ 270. Essa alternância de tecnologias acontecia sem que o usuário precisasse fazer a troca de número.
VIU ISSO?

Mas o que diabos é esse tal de GSM? Bom, mais uma evolução. Mais um candidato nessa guerra de padrões, e que acabou sendo o escolhido pelo mercado.

O GSM opera entre 800 MHz e 1900 MHz, faixas de frequência próxima ao TDMA – 900 MHz e 1800 MHz. Sua essência em ser um padrão, que pudesse ser adotado em larga escala, já começa por sua característica do uso de SIMs, os chips que armazenam informações sobre a linha e podem ser colocados em outros aparelhos compatíveis com a tecnologia.
Em 2004 essa tecnologia já chamava atenção em relação a sua implementação no mundo. Dados da época, fornecidos pelo IBGE,  revelaram que de junho de 2003 a julho de 2004 a participação do GSM saltou de 8,22% para 23,13%.
Nessa época Oi, TIM e Claro faziam uso do GSM, a Vivo apostava no CDMA. Globalmente o GSM era utilizado por mais de 900 milhões de usuários. 

Uma curiosidade da época era que os clientes Vivo podiam solicitar um “kit viagem”, caso fossem fazer uma viagem internacional, já que como a companhia apostava no CDMA, um cliente que fosse para a Europa, por exemplo, ia ficar na mão. Por isso, era possível requisitar um aparelho GSM. As chamadas telefônicas seriam redirecionadas para o número de celular que ele levou na viagem.
Em 2005, quando o Brasil alcançou a marca de 79 milhões de celulares, a tecnologia GSM já era a líder de mercado, com 46,92% de quota, seguido pelo CDMA (em virtude da base da Vivo), com 28,57% de share e TDMA com 24,30%.

Outro problema do TDMA era a alta probabilidade de clonagem, o que fez com que a Claro adotasse posições que lhe geraram problemas. 

Em 2006 a companhia passou a obrigar que seus clientes, que utilizavam a tecnologia TDMA, digitassem uma senha para fazer ligações, com o risco do aparelho ser bloqueado para aqueles que não seguissem a ordem. Era uma maneira da gigante de telecomunicações de Carlos Slim obrigar os usuários a migrar para o GSM, mas no marketing passar a imagem que era uma medida de segurança. Neste ano a Claro era a terceira maior operadora do Brasil. A líder era a Vivo, e a TIM aparecia em segundo lugar.

No ano seguinte foi determinado pela  juíza Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio, que a Claro não poderia mais bloquear aparelhos que utilizam a tecnologia TDMA.

A segunda geração móvel – 2G – ainda mantém uma certa relevância em algumas aplicações, como terminais M2M. No Brasil, e em alguns outros países, o 3G deixará o mercado antes do 2G. 

A “bola de neve do mercado” continuou agregando novas tecnologias. Depois do GSM tivemos outros padrões que seguem a “família GSM”, como o WCDMA, HSPA, HSPA+, LTE, LTE Advanced e LTE Advanced Pro. No momento estamos em uma nova transição de geração móvel, partindo do 4G para o 5G. 

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