28/03/2024

Dona da Nextel entra com pedido de ‘recuperação judicial’ nos EUA

Para melhorar a rentabilidade no mercado brasileiro, a operadora passou a atacar mais a concorrência afim de atrais clientes.

A NII Holdings, controladora da Nextel Brasil, solicitou a proteção do capítulo 11 da Lei de Falências americana para renegociar suas dívidas, que chegam a US$ 5,8 bilhões. Embora o procedimento, que seria próximo a um pedido de recuperação judicial no mercado brasileiro, não envolva diretamente a Nextel, a decisão reacende o debate sobre o destino da empresa, que tem cerca de 4 milhões de clientes no País e faturou R$ 376 milhões no segundo trimestre – quase metade de toda a receita da NII.

A Nextel passou por uma correção de trajetória ao longo dos últimos dois anos. A empresa, ainda mais conhecida pelo serviço de rádio, está tentando modificar a sua oferta, focando principalmente na internet 3G. A companhia teria investido R$ 500 milhões, tanto em ampliação da rede quanto em marketing, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, no ano de 2013. A expectativa dentro da Nextel é de ampliar esse investimento para até R$ 1 bilhão em 2015, caso a holding consiga alongar o perfil de seu endividamento.

O problema, segundo fontes de mercado, é que a empresa perdeu competitividade nos últimos anos. Com o serviço de rádio, a companhia concentrava sua clientela no setor corporativo. Desde 2009, quando a TIM começou a oferecer chamadas ilimitadas dentro de sua rede, sendo seguida rapidamente pelas demais operadoras, essa vantagem competitiva passou a se esvair. A empresa também precisava se adaptar à realidade atual, focada em dados.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no ano passado, o presidente da operação local da Nextel, Gokul Hemmady, admitiu que a empresa também deu um passo em falso ao terceirizar a manutenção de sua rede e do serviço de tecnologia da informação a companhias como Nokia Siemens, Huawei e HP. A decisão, segundo fontes, reduziu custos e aumentou a rentabilidade em um primeiro momento.

Mas a estratégia se revelou uma má ideia, pois afetou até mesmo o atendimento ao cliente da empresa. O próprio Hemmady providenciou a contratação de 400 funcionários para que o controle dos serviços voltasse a ser feito dentro de casa.

Sem a vantagem competitiva dos tempos do rádio, a empresa se viu obrigada a brigar diretamente com as gigantes do mercado. Lançou com atraso o serviço de internet 3G e começou a oferecer o 4G em junho, apenas no Rio. A empresa agora aposta em ofertas agressivas (com comerciais que comparam seus preços aos das demais operadoras) para ampliar sua base de assinantes. A companhia hoje tem mais de 1 milhão de linhas ativas, mas sua participação de mercado ainda é inferior a 0,5%.


Uma das opções para o negócio seria a venda da operadora brasileira. Além de ter mais de 1 milhão de assinantes de telefonia celular, concentrados em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Nextel ainda contabiliza mais 3 milhões de usuários no rádio. Apesar de a tecnologia ser considerada superada, a empresa pretende manter o serviço por mais alguns anos.

Dentro da Nextel, executivos trabalham com a possibilidade da venda do negócio. Para especialistas no setor, essa é inclusive a saída mais provável dada a situação da NII. Mas, para que a Nextel não acabe entregue por um valor muito baixo, o melhor que a holding teria a fazer seria tentar melhorar suas margens no País, para que um concorrente esteja disposto a pagar mais pela operação.

É o que a Nextel vem tentando fazer. Depois de ver sua receita média por usuário cair 30% no segundo trimestre de 2014, em relação ao mesmo período do ano passado, a empresa diz esperar que a expansão de sua rede de internet reverta o quadro. A Nextel afirma que, desde que iniciou a oferta de 3G, há exatamente um ano, a receita média dos novos clientes já subiu aproximadamente 50%.


Ações da companhia deixam de ser negociadas

Para piorar ainda mais a situação, a bolsa eletrônica norte-americana Nasdaq notificou a NII Holdings da intenção de retirar os papéis da companhia da listagem do mercado de ações, intenção baseada no anúncio de pedido de recuperação judicial (noticiado acima) emitido no dia anterior e em “preocupações de interesse público”.

Para proteger o valor restante da empresa e dos acionistas, a NII já comunicou que não vai recorrer e deixará de ter suas ações negociadas.

De acordo com formulário enviado na quinta-feira (18), à Securities and Exchange Comission (SEC), essas apreensões incluíam participação residual de valores mobiliários existentes e “preocupação sobre a habilidade da companhia de sustentar a conformidade com todos os requerimentos para continuar listada no mercado de ações da Nasdaq, incluindo em particular a Regra de Listagem 5450(a)(1), que requer um preço mínimo de US$ 1 por ação”.

A menos que a NII fizesse uma requisição formal de apelação, a oferta das ações da companhia será suspensa no próximo dia 25 de setembro, com o envio do Form 25-NSE em sequência para remover a empresa da listagem da Nasdaq.


Para o lado da NII, não há interesse em recorrer, já que qualquer plano de reestruturação implantado após o procedimento de concordata resultaria na perda de liquidez, juros e direito de aquisição das ações, que seriam cancelados sem considerações.

“Se isso fosse ocorrer, todo o valor de investimentos de ações comuns da companhia será perdido. Por essa razão, a companhia não pretende tomar nenhuma ação futura para apelar da decisão do staff (da Nasdaq)”.

Os papéis da controladora da Nextel Brasil estão cada vez mais em queda livre na bolsa norte-americana, com valor oscilando entre US$ 0,066 e US$ 0,125 durante a semana.

Às 13h30 desta sexta-feira (19), as ações da empresa estavam apresentando queda de 22,95%.

Com informações de Estadão, Exame e Revista IstoÉ.
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