28/03/2024

Oi envia equipe a Portugal para verificar contas da PT

Investimento bilionário (R$ 2,71 bilhões) no Banco Espírito Santo feito pela Portugal Telecom não agradou em nada a brasileira Oi.
Com o fantasma de um calote rondando a Portugal Telecom (PT), os acionistas brasileiros da Oi decidiram fazer um pente fino nas contas da operadora portuguesa para evitar novas surpresas desagradáveis, como a recém-descoberta de um investimento de risco feito pela PT para “ajudar” um banco português com situação financeira preocupante.

Um time da área financeira da Oi, liderado pelo diretor da área, Bayard Gontijo, está em Portugal com a missão.

A averiguação é importante porque as duas empresas caminham para uma fusão, que dará origem a CorpCo e deve ser concluída em outubro deste ano.

Pelo cronograma inicial, uma união entre as áreas de tesouraria das duas empresas estava prevista só para meados de agosto. Mas, preocupados, os acionistas brasileiros decidiram antecipar o processo após a crise gerada pelo investimento de risco de 897 milhões de euros (cerca de R$ 2,7 bilhões) feito pela operadora portuguesa na Rioforte, holding em crise financeira do Grupo Espírito Santo (GES), que, por sua vez, é dono de 10,05% da PT.

No mercado, a tensão também é elevada. Em meio às incertezas, notícias de que o Espírito Santo International (ESI), dono da Rioforte, atrasou o pagamento dos juros de dívidas de curto prazo pressionou ainda mais as ações da Oi, que fecharam nesta quinta-feira (10), na BM&FBovespa na menor cotação dos últimos 15 anos.

Os papéis preferenciais da operadora de telefonia lideraram as quedas do índice Ibovespa, um tombo de 12,65%. A ação foi a R$ 1,45, menor valor de fechamento desde 10 de fevereiro de 1999.

A mínima atingida durante o pregão também foi a menor desde 17 de fevereiro de 1999. A ação ordinária da Oi recuou 13,48%. O atraso no pagamento aumentou os temores de que a PT deixará de receber os 897 milhões de euros que emprestou à Rioforte dentro do prazo, que vence na próxima semana.

Entre os acionistas brasileiros da Oi, o grande temor é o surgimento de novas operações, que possam influenciar a situação financeira da Portugal Telecom. Um dos passos da fusão foi a avaliação dos ativos da operadora, que somaram R$ 5,7 bilhões em laudo feito pelo Santander Brasil.

Desde que a possibilidade de calote veio à tona, os sócios brasileiros são categóricos em garantir que a Oi não irá arcar com um possível prejuízo da PT no negócio fechado com a Rioforte.

No início da semana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), um dos sócios controladores da Oi, classificou as aplicações na Rioforte como “inconsistentes com padrões mínimos de boa governança corporativa” e revelou já ter pedido informações detalhadas sobre a transação feita pela operadora portuguesa.

Caso o pagamento não seja feito na data, há duas possibilidades na mesa. A primeira é reduzir a participação da PT na CorpCo de 38% para até 20% no pior cenário. Outra possibilidade é a utilização de garantias.

A fatia da PT seria mantida na CorpCo em 38%, mas parte das ações serviriam de garantia e seriam liberadas à medida que a Rioforte quitasse o pagamento referente aos títulos comprados pela operadora portuguesa.

De acordo com a imprensa portuguesa, o presidente da PT, Henrique Granadeiro, se reuniu com o conselho de administração da companhia para explicar o investimento na Rioforte.

Segundo o jornal Diário Económico, Granadeiro alega que não havia a necessidade de comunicar a operação ao conselho por ser uma aplicação de curto prazo.

Além disso, o executivo argumenta que a transação foi aprovada pela comissão executiva. A Oi pediu esclarecimentos sobre o negócio e declarou não ter sido informada nem participado das decisões que levaram à aplicação.

Procurada para falar sobre o encontro, a PT não respondeu.

A imprensa portuguesa diz ainda que, com a crise, a Oi encontrou uma forma de pressionar os portugueses, exigindo a alteração na relação de troca das ações. O objetivo seria reduzir a fatia sem “esticar muito a corda”, não colocando em risco o negócio.

Gestor da Portugal Telecom ‘pede pra sair’ e vai cuidar apenas da fusão

A administração da PT não irá divulgar qualquer demissão depois de ter sido adiantado que Luís Pacheco de Melo tinha solicitado a saída da operadora portuguesa. Porém, num momento em que PT e Oi estão em pleno processo de fusão, Melo ficará encarregado de cuidar desta fusão, apesar de já não estar no universo da empresa brasileira ou da portuguesa, ficando ‘colocado’ numa holding. 

Alguns jornais portugueses destacaram que o gestor estaria de saída da PT, algo automaticamente desmentido pela empresa. Em causa, estava o seu envolvimento no caso Rioforte, que envolve também BES. Neste negócio a operadora subscreveu 897 milhões de euros de papel comercial, que corre agora o risco de não ser reembolsado, fato desconhecido para a maioria dos administradores de topo das duas empresas.
Pacheco de Melo tem estado, tal como Henrique Granadeiro, sob fogo cruzado devido a esta operação. São quase 900 milhões de euros que deviam ser pagos até 17 de Julho.


Haja emoção para os acionistas da Oi

Acima mencionamos que o valor das ações da Oi despencaram 13,48% nesta quinta a R$ 1,45 – pressionando a bolsa a fechar com o menor valor em 15 anos.

Mas nada como um dia após o outro. Nesta sexta-feira (11) as ações preferenciais da Oi dispararam 11,27% a R$ 1,58 – a maior alta do Ibovespa. As ações ordinárias também subiram, foram 7,14% de aumento de valor a R$ 1,65.

Todo esse alívio se deu pela informação de que o BES (Banco Espírito Santo) teria capital suficiente para aguardar eventuais perdas do GES (Grupo Espírito Santo). Hoje, as ações do banco tiveram suas negociações retomadas na Bolsa de Lisboa, depois de ficarem suspensas por quase 24 horas. A suspensão decidida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) foi encerrada depois que o BES emitiu um comunicado em que esclarecia as relações ao GES. No documento, o BES disse acreditar que um eventual calote da dívida emitida por entidades do GES não ameaça o cumprimento das proporções exigidas de capital, dado que tem um colchão de 2,1 bilhões de euros acima do mínimo necessário.

Além disso, o banco central de Portugal disse que o BES tem capital suficiente para enfrentar as potenciais perdas do GES, sendo que a segurança dos fundos do BES não está comprometida. “Não existem motivos que comprometam a segurança dos fundos confiados ao BES, portanto os depositantes podem ficar tranquilos”, ressaltou.


Maior banco listado de Portugal, o BES está no centro de uma tempestade após preocupações sobre suas ligações com uma rede de empresas controladas pelo poderoso clã Espírito Santo ter provocado uma turbulência nos mercados globais nesta semana, o que levou algumas empresas europeias a suspender captações de recursos, revivendo memórias da crise da dívida na região.



Ponto: HSBC diz que Oi não deve aprovar acordo com a PT nessa situação

A Oi não deve aprovar acordo com a Portugal Telecom nas condições atuais, segundo relatório do HSBC. Os analistas da instituição financeira avaliam que a Portugal Telecom pode ter que aceitar uma relação de troca de ações menos favorável na fusão com a Oi, por causa do investimento em papéis comerciais da Rioforte.

A Portugal Telecom pode ter que assumir uma baixa contábil de seu investimento de € 897 milhões em papéis comerciais, o que tem consequências sobre as posições de caixa e dívida da companhia. O investimento equivale a quase 51% do valor dos ativos da Portugal Telecom, conforme avaliação sobre a fusão. As assembleias das companhias para votar as últimas etapas formais da transação estão marcadas para acontecer entre setembro e outubro.


O potencial impacto negativo de uma baixa contábil é de até € 1,20 por ação para a Portugal Telecom. O papel da Portugal Telecom tem recomendação underweight do HSBC.

Contra-ponto: BNDES diz que operação da PT não põe em risco fusão com a Oi

As dificuldades enfrentadas pela Portugal Telecom com a saída de 897 milhões de euros de seu caixa não põem em risco o processo de fusão com a brasileira Oi, segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que falou com jornalistas ao chegar em almoço promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil. 

Para Coutinho, não há risco para o processo de fusão, mas os termos em que se deu o acordo entre a Oi e a PT podem vir a ser modificados. “Vamos avaliar as condições”, disse, embora o presidente do BNDES tenha evitado entrar em detalhes de quais seriam essas alterações e se poderiam envolver redução da participação acionária da Portugal Telecom no capital da Oi.
Coutinho disse ainda que o banco de fomento, que é um dos acionistas da Telemar – que tem participação na Oi – está acompanhando atentamente as negociações e que vai buscar preservar os interesses dos acionistas, “o que é nossa obrigação fiduciária”. Coutinho afirmou não poder adiantar detalhes por se tratar de empresas com capital aberto.


Com informações de Agência Estado, InfoMoney e Valor Econômico.
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