14/03/2024

OTTs reforçam presença no país e teles investem mais em conteúdo

Desde o ano passado, consultorias internacionais apontam a queda na receita do SMS, conforme os usuários migram para os chamados serviços “over the top” (OTT) como o Apple’s iMessage, o BlackBerry Messenger, o WhatsApp e aplicativos de chat do Google e do Facebook. A queda nas receitas de SMS das operadoras, de acordo com estudo divulgado no final de abril pela consultoria Ovum, foi de US$ 25 bilhões em 2012. A previsão da Ovum é de que neste ano a perda será de US$ 34 bilhões. De acordo com a Ovum, a taxa de crescimento de SMS deixará o patamar de dois dígitos (14%) em 2011 para 8% este ano. E, a partir de 2013, as receitas com a venda de banda larga móvel serão responsáveis pela maior parte da receita das operadoras, excluindo serviços de voz.

No Brasil, a realidade ainda é outra. A receita de SMS da Vivo cresceu, no ano encerrado no primeiro trimestre de 2013, 14,5%. No balanço do primeiro trimestre da Oi, a empresa informa que a receita de serviços totalizou R$ 1,6 bilhão, apresentando aumento de 6,4% em relação ao 1T12, principalmente pelo robusto desempenho de dados e serviços de valor agregado, tanto pelo estímulo de pacote de internet e torpedo quanto pela expansão da cobertura 3G.

Mas a perda de receitas de SMS é realidade, está se acelerando e vai chegar aqui. Mesmo porque subsidiárias de empresas como o Youtube, da Google; a Netflix, a Hulu, a Amazon, a HBO e o Go, que fornecem serviços OTT, estão se instalando no país e vão começar a implementar suas estratégias para ganhar mercado. E esta demanda por serviços vai ampliar o tráfego de dados. De acordo com Tiago Monteiro, consultor da A.T. Kearney, para fazer frente ao aumento do tráfego de dados, as operadoras de telefonia terão que investir entre 40% e 60% a mais do que o programado entre 2012 e 2015 para backhaul e acesso. Estudo apresentado em agosto de 2012, mostrava que o tráfego, na Europa, crescerá 33% ao ano até 2015. No Brasil, haverá uma evolução será 1,8 vez maior, chegando a 190 Terabytes ao ano. “A necessidade de investimento sem previsão de aumento de receita poderá provocar redução de 1/3 do lucro das operadoras”, previu ele.

Como as operadoras vão reagir? A previsão da Ovum é de que vão tentar participar das receitas geradas por serviços OTT, por meio de acordos com os provedores desses serviços. O WhatsApp já tem uma série de parcerias com operadoras, incluindo acordos de roaming com três companhias de Hong Kong e, na Índia, a oferta de um serviço na rede GSM da Reliance Communications. O próprio Facebook tem um longo histórico de trabalho com operadoras e a mais recente parceria com 18 delas [anunciada no MWC, em Barcelona] garantirá acesso grátis ou com desconto à plataforma, explicou à imprensa internacional Neha Dharia, analista de consumo da Ovum. Neste sentido, o CEO do Viber (aplicativo de chamada e mensageria IP) afirmou que a companhia ficará feliz em compartilhar sua receita com serviços pagos, quando começar a cobrar os consumidores.

Mas esse não é o único modelo de negócios possível. Para elevar o percentual de investimentos, prevê Monteiro, da A.T. Kearney, as operadoras podem mudar a política de preços e venda, com inserção de regras para o varejo. Outro modelo é a cobrança de acordo com o volume de tráfego consumido, por meio de acordo com os provedores de conteúdo. O terceiro modelo é o de garantia de tráfego a partir da gestão diferenciada de valor. E o quarto modelo prevê acordos bilaterais para oferecer melhor qualidade dos serviços.

No Brasil, as operadoras estão lançando seus próprios serviços OTT. No balanço do primeiro trimestre, a Vivo informa que um desses serviços, a plataforma de educação, composta por serviços voltados para a prática e aprendizado da língua portuguesa e de línguas estrangeiras, já ultrapassa os 3 milhões de assinantes no Brasil. O serviço já treinou mais de 15 milhões de usuários. A Oi anunciou, neste mês de maio, acordo com a Positivo para o fornecimentos de aplicativos na área de educação e a TIM informou que em um mês, registrou mais de 3 milhões de downloads no TIMmusic. O aplicativo da operadora traz música ilimitada baseada nas plataformas Infinity e Liberty, com cobrança de valor fixo por dia (R$ 0,50) ou mês (R$ 9,90), quando há uso do serviço.

A oferta de serviços por meio da internet não drena receitas apenas das operadoras de telecomunicações. No segmento de comunicação social, as operadoras se aliam a outros provedores OTT para oferecer serviços, e aí concorrem com as empresas tradicionais de broadcast. A Samsung acaba de anunciar que o Vivo Play, fará parte de sua plataforma de Smart TV. Vivo Play vai oferecer mais de 3 mil filmes, séries, programas e transmissões em HDTV. O Vivo Play foi lançado no ano passado para acesso por meio de smartphones, computadores, Xbox e set top box. No Brasil, a Samsung opera com outros provedores OTT, como a Netflix, a Netmovies e a Saraiva.

Hoje, dos três segmentos envolvidos na disputa pelo mercado de conteúdo sobre a internet, não há dúvida de que as empresas de OTT, especialmente as de mecanismos de busca e oferta de vídeo, são as que melhor souberam aproveitar as oportunidades trazidas pela internet. Mas o risco de haver um colapso na internet, por falta dos investimentos necessários e cada vez mais relevantes para ampliar a capacidade da rede para suportar mais e mais tráfego de dados e vídeo, tende a acelerar as parcerias entre OTTs e teles, OTTs e empresas de broadcast, tradicionalmente grandes produtoras de conteúdo, e entre teles e empresas de broadcast. O limite para essas parcerias está no conceito de neutralidade da rede, adotado por todos os países democráticos, que impede o tratamento discricionário do tráfego dos usuários.

A grande discussão, na pauta do Congresso Nacional, que discute o Marco Civil da Internet, e também na ordem do dia dos reguladores europeus e norte-americano, entre outros, é o entendimento do que é o gerenciamento técnico admissível na internet, sem ferir os direitos dos internautas. Este é um debate dinâmico, até porque a tecnologia evolui rapidamente e surgem novas aplicações sociais (como as de telemedicina) que colocam novos desafios a serem solucionados.
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